por Basílio Machado
Sempre que fecho os olhos pra dormir vejo a carinha do Willian Bonner com os atraentes supercílios contraídos, fazendo ar de lamúria ao anunciar a matemática da morte. Depois, encerra o JN com aquele minuto fúnebre de silêncio, como quem diz: “cuidado, amanhã vou te incluir nas minhas estatísticas”. Cago de medo e tenho tido pesadelo com o Bonner todas as noites. Vai que a profecia dele me pega em cheio. Eu heim!! Sai pra lá, inhaca. A culpa só pode ser da Fátima.
Já queimei a pestana aqui para falar dos lojistas, das empresas fechadas, da dificuldade de se governar e tomar medidas duras para conter a praga. Repetir essa cantilena seria cair no lugar comum. Se eu, como jornalista, não aguento mais ouvir falar de Covid, imagino o leitor, que é bombardeado diuturnamente com o tema.
O fato é que foi a semana mais trágica para o nosso Estado em relação ao número de mortes pela praga. Quando fantasmas rondam famílias, empresas e empregos, eis que governos e alguns setores da sociedade civil começam a abrir os olhos para as vítimas vivas dessa pandemia. Sim, vítimas vivas. Pessoas que se afastaram ou mesmo superaram o vírus, mas que também viram sumir de suas mesas e despensas o sagrado pão nosso de cada dia. E não são poucos nessa situação.
Atendendo a pedidos de alguns leitores mais críticos, e outros desaforados, ia falar mal do Victor da Silva Coelho hoje. Porém, me parece que o prefeito estava adivinhando e iniciou a semana com o que considero o gesto mais nobre de sua gestão no tocante à pandemia. Enfim, um olhar voltado para os que têm fome e encontram-se verdadeiramente isolados. Uma campanha que apela à solidariedade humana, que chama os que serão ungidos pela vacina a olhar para os que estão na miséria.
Em breve devo ser chamado à agulha no postinho de saúde. Levarei comigo um quilo de feijão. É pouco, mas se todos fizerem o mesmo, chegaremos a muitas mesas vazias. Compartilhar o amor é a atitude mais bacana, mais cidadã que se pode ter. Não vou falar mal do prefeito hoje, nem do governador e tampouco do presidente. Já tem muita gente fazendo isso. Além do mais, detesto o lugar comum. Vamos compartilhar amor. E se não for pedir demais, compartilhem também esse texto e ajude um pobre jornalista a acertar o bico quebrado de seu fordeco.
Até!