Uma cirurgia inédita no Sul do Espírito Santo foi realizada em Cachoeiro de Itapemirim para remover um tumor no cérebro de uma criança de 12 anos, no Hospital Unimed, no último dia 17 de setembro. O método, conhecido como cirurgia Awake, por estar o tumor em uma área denominada primária (Wernicke), é feito com o paciente acordado, proporcionando mais precisão e segurança ao remover o tumor cerebral sem o risco de lesar uma área saudável do cérebro, o que poderia trazer um déficit para a pessoa.
O procedimento, considerado de alta complexidade, contou com uma equipe de 15 profissionais, formada por neurocirurgiões, anestesistas, neurofisiologistas, neurologista, intensivista, técnico da neuronavegação, auxiliares técnicos e instrumentadores. A paciente Yasmin Victória Carvalho do Nascimento, após ter sido sedada para a abertura do crânio, na sequência foi acordada com a retirada da sedação e passou a responder perguntas da neurofisiologista enquanto acontecia a retirada do tumor.
Foram mostrados objetos como papel e borracha e solicitado que ela falasse o que estava vendo (teste elaborado previamente para a área lesionada). O objetivo era checar se a paciente não estava tendo problemas na compreensão da palavra falada, escrita e imagens, com a extração do tumor.
O neurocirurgião da Unimed Sul Capixaba, Rogério Pacheco, explicou que, em casos como o da paciente Yasmin, a cirurgia Awake é a opção mais indicada, embora pouco comum nesta faixa etária, devido ao crescimento acelerado do tumor e à existência de lesões em áreas primárias ou eloquentes, que podem afetar funções importantes, como força motora, sensibilidade, fala e visão.
No ano passado, numa primeira cirurgia, a ressecção do tumor foi parcial devido às suas características, como crescimento lento. Mas com uma evolução não compatível e crescimento mais rápido do que o esperado, foi necessária a cirurgia Awake, que é uma conduta mais agressiva com a intenção de retirada total da lesão.
A descoberta do tumor
O tumor que atingiu Yasmin surgiu em fevereiro de 2020, quando ela, aos 10 anos, uma criança muito saudável, começou a ter dores de cabeça frequentes e uma crise epiléptica, em casa. Sua mãe, a empresária Geciara Soares Motta Carvalho, conta que o diagnóstico foi um choque para toda a família. “Foi tudo muito rápido. Com 15 dias ela passou por uma primeira cirurgia, sedada, mas o tumor não pode ser totalmente retirado porque havia risco de sequelas permanentes”, afirmou.
Geciara Carvalho comentou que durante a cirurgia na última sexta-feira, ficou do lado de fora do centro cirúrgico, mas recebeu a todo momento informações. “Os médicos vinham, me mostravam vídeo dela falando e fazendo os testes, os médicos perguntando e a Yasmin respondendo. Isso, além de muita fé em Deus, me deixou mais tranquila”, comentou a mãe da paciente. Dois dias após a cirurgia, Yasmin teve alta e estava de volta com a família, em casa. Agora, ela continuará tendo o acompanhamento com um oncologista.
Entendendo a cirurgia
Apesar da operação de craniotomia Awake ser realizada com o paciente acordado, o paciente é inicialmente sedado. O cirurgião precisa primeiramente abrir o crânio e atravessar a meninge do paciente antes de identificar a área afetada.
Já com o cérebro aberto, o anestesista acorda o paciente. Na sequência, começa a atuação do neurofisiologista, que estimula o paciente com atividades que envolvam funções da área a ser operada. A partir das respostas e possíveis disfunções apresentadas pelo paciente, os médicos identificam qual tecido é e até onde podem retirar sem prejudicar o paciente. As atividades dadas podem ser desde conversas, imagens e contas matemáticas simples, até outras mais complexas.