Não ando com os fins de semana muito ocupados em minha nova – Vila Velha – cidade. Nessa busca de ocupar saudavelmente o tempo, resolvi subir o Morro do Moreno e descer dependurado em algumas cordas, nessa divertida atividade que chamam de rapel. As emoções da descida pendurado nas cordas enquanto olhava para as belas paisagens da baia de Vitória se misturaram a recordações mais antigas. Aquela não era minha primeira vez. Alguns vários anos atrás tinha um amigo que me arrastava para essas aventuras. Rapel, asa delta, canoagem. Ele já se foi, em um triste acidente de automóvel. Já não éramos tão próximos como na época que descíamos cachoeiras e rios, mas nunca perdemos de vista essa amizade que tínhamos.
Um dia o Glauber resolveu ser candidato a vereador. Acho que o gosto pela coisa o tinha alcançado em 98, quando Jathir Moreira foi candidato e nós trabalhamos na campanha. Mas eu já era um comunistinha enrustido com tendências anarquistas desde mais garoto ainda e não ia dar certo acompanhá-lo naquela aventura.
Cada um foi para o seu lado, mas a amizade sempre ficou acima do fato de que eu nunca votei nele (nem no irmão, diga-se de passagem). Quase sempre estivemos de lados opostos nas eleições.
Quando casei a primeira vez (foram só duas), ele foi o motorista da minha noiva, com direito a fantasia de chofer e tudo. Já era vereador e eu já tinha feito campanha para os adversários. Chegamos a cogitar alguns projetos juntos alguns meses antes de sua partida. E, naturalmente, eu não iria votar nele na eleição daquele ano.
Antigamente as coisas eram assim. Lá em Cachoeiro eu cresci ouvindo Ferraço dizer que não tinha inimigos e sim adversários. E todas as vezes que vi os dois grandes rivais da política local se encontrarem – Valadão x Ferraço – eu via duas pessoas cordiais, se tratando carinhosamente e com muito respeito.
Uma época na Rádio Difusora tinha um programa muito divertido, com Almir Forte e Jathir Moreira, então no PSDB. Fora o fato que os dois eram bem ruins de rádio, era muito educativo ver o tucano e comunista trabalhando juntos como amigos que eram.
Alguma coisa se perdeu no caminho e não foi em Cachoeiro. Não é que as coisas fossem um mar de rosas. Não que em outros tempos não tenha havido radicalismo ou violência política. Nossa história tem muita história. Nem todas das mais recomendáveis. Mas me parece que vínhamos melhorando e, de repente, a coisa desandou de novo.
De uns tempos para cá o vocabulário político se degenerou. Xingar juiz em público só se fosse no futebol, e olhe lá que isso também tinha limites. Agora pensar diferente virou motivo para desejar a morte, para defender a morte, para incentivar a morte. Um certo fanatismo mitológico parece ter tomado conta das mentes como aqueles vírus de filmes de zumbi.
Sinceramente, meu prezado leitor, eu me importo sim com o que as pessoas ao redor de mim pensam. Para início de conversa, se a pessoa discorda de mim e me respeita, então temos bons motivos para muita conversa, sem intenção de dobrar ninguém. Mas se o indivíduo assume uma posição em que todos os que discordam dele são tolos e ignorantes, então, eu, que só sei que nada sei, saberei que não é o tipo com quem desejo dividir uma mesa de bar. Mas para fim de conversa, existe um ditado alemão que diz “se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas numa mesa”.
Prezado leitor, não se pode tolerar o intolerável.