Acabo de ler aqui mesmo a crônica do Marco Aurélio Borges falando da falta de assunto. Como sempre, muito bom. Ilustrou bem como as pequenas coisas podem ganhar importância, dependendo do contexto em que forem apresentadas. Afinal, um mesmo boleto de luz teria sentidos diferentes se na mesa do diretor da EDP ou no balcão do Chico da padaria. Para o primeiro, a fotografia; para o segundo, a radiografia.
A forma como colocamos a informação é revestida de muitas nuanças. Se pesar a mão, desagrada fulano, se pegar leve, desagrada beltrano. Pior é que o silêncio também tortura. Algumas notícias podem machucar muito. Aprendi, por exemplo, ainda no banco da faculdade, que suicídio não é notícia. A não ser que seja alguém, digamos, de alta patente, uma celebridade, um presidente…
Isso já trouxe muita discussão nas redações por onde andei. Tem jornalista que é a favor de que se publique tudo, doa a quem doer. Não importa se quem for ler a matéria estiver à beira do abismo, pensando naquele ato derradeiro e no minuto de fama que nunca teve. Respeito quem pensa assim, mas me recuso a fazê-lo. Tem uma linha muito tênue nessa questão, que é ética.
Nessa mesma linha, tenho visto postagens detonando pessoas que perderam a vida para a Covid, mas que foram aquilo que chamam de negacionistas. A grande mídia cunhou esta expressão para reportar gente que desconfia da doença, que não acredita na vacina, que acha que a cloroquina resolve o problema, essas coisas. São opiniões, meras opiniões, que ainda estão por aí. E permanecerão enquanto a ciência não responder a um monte de perguntas sobre o vírus que ainda estão no ar, contaminando cautos e incautos.
Há quem poste contra os mortos negacionistas (a que ponto chegamos), aludindo que o cara morreu porque é bolsonarista (outra idiotice). Agora, gostaria de saber o que esta mesma pessoa postaria se morrer de Covid o sujeito que se cuida, mantém o distanciamento, usa máscara até para ir ao banheiro e já tomou as duas doses da vacina. E olha que está havendo muito disso. Por essas e outras, não politizo defunto nem doença.
Fico na minha. Acho mais sensato respeitar a história e as opiniões das pessoas, mesmo depois de mortas. Afinal, nunca se sabe. De qualquer forma, como sou cagão, já me vacinei duas vezes. E se tiver a quinta dose, tomo também. Se ficar doente de novo, como já aconteceu duas vezes, tomo Cloroquina, Ivermectina, qualquer coisa que possa me ajudar. E se eu morrer, por favor, não culpem o presidente. Nem o Lula. Culpem o Cabral.
Até!!