Feliz ano novo, meu prezado leitor! Depois das festas de fim de ano, sinto meu próprio humor um tanto menos ácido e mais otimistas quanto ao novo ciclo que se aproxima.
Na busca da felicidade, resolvi me permitir a novas experiências. Também vale reviver antigas boas experiências. Quando jovem, detestava ir para a “roça”. Sempre fui uma criança urbana, e todo aquele ambiente, ainda na época desprovido de Netflix e outros benefícios da vida moderna, para mim era enfastiante demais. Minha solução era arriar um cavalo qualquer à revelia da opinião dos meus tios e sair pelos pastos, já bem desprovidos de árvores. Hoje, a convite e na companhia do meu amigo e parceiro de teatro César Augusto, tive a oportunidade de reviver esses momentos distantes na memória. Cavalgamos por mais de duas horas pelas regiões de Muqui que eu só conhecia dos tempos de Rádio Difusora 770, quando eu anotava os recados para o Parraro Scherrer mandar para as pessoas, avisando que algum parente ia chegar em tal ou tal horário. Cumpríamos esse papel de serviço público de telefonia radiofônica. E uns tempos depois eu mesmo anotava e dava os recados ao vivo.
Guardarei sempre essa manhã de cavalgada na memória. E alguns dias no corpo, com as dores musculares que irão me acompanhar. Resultado da falta de costume com a coisa. E olha que o animal que me levava era além de bonito, competente na marcha. Bem diferente do animal que o animal carregava.
Também resolvi mudar o tom dessa coluna nesse início de ano. Não falar de imbecis que tudo fazem para atrasar a vacinação de crianças ou de pessoas organicamente impedidas de exteriorizarem suas merdas.
Resolvi escrever sobre relacionamentos, mais um tema do qual sou tão incompetente quanto cavalgar.
Meu prezado leitor, dizem por aí que estamos vivendo os tempos dos relacionamentos líquidos. Aliás, essa coisa de chamar tudo de líquido foi um acidente de percurso na popularização da minha ciência, a Sociologia. Diga-se, ainda, que chamar tudo de líquido é vulgarização da Sociologia, e não popularização.
Todo o discurso criticando os relacionamentos mais fluídos (ou líquidos se quiser chamar) passa por uma resistência às mudanças que, há de se falar, são da ordem do econômico antes de ser do social. As pessoas se tornaram mais independentes, em especial nas classes médias. E isso se deve muito aos processos recentes e ainda em curso de empoderamento das mulheres. Trocando em miúdos, meu querido leitor, só suportamos gente chata, inconveniente, enjoada, escrota se temos algum distúrbio mental e gostamos de nos torturar, ou porque não temos outra alternativa. Se há alternativa, acredite, o chato vai tomar um pé na bunda. Seja marido, seja amigo, seja colega de trabalho, seja patrão, parente, o que for. Então, quando tomar algum pé na bunda, pense se o problema não é você. E se estiver convencido que é um chato e notar que ainda não tomou um pé na bunda, avalie se as pessoas que te cercam não possuem algum diagnóstico de distúrbio mental. Caso contrário, é possível que estejam ganhando alguma coisa em troca de tolerar sua presença (sem que você saiba).
Ah, mas os relacionamentos afetivos! Ah, o amor. O amor é, sem dúvida, maravilhoso. Em todas as suas nuances. Seja o amor pelos filhos, pelos pais, pelos amigos. Amar e ser amado é uma das melhores experiências da vida. Uma experiência que, depois de perceber o quanto eu era um chato e tomar uns pé na bunda absolutamente legítimos, passei a viver com mais frequência.
Claro, também o amor do companheiro, da companheira, o amor daquela pessoa com quem se divide a vida. Quando jovem já escrevi sobre esse amor – que me recuso hoje em dia de chamar de romântico. Escrevi poesias e mostrei ao grande poeta Affonso Romano, que não fez muitos elogios e me disse para estudar mais. Mas depois de maduro, tive meus surtos poéticos, em alguns casos, com aquela cara de vinte anos atrás.
Mas, meu prezado leitor, todos os amores, todos os tipos de relacionamento, e em especial esse amor do companheiro, da companheira, são como a cavalgada de hoje pela manhã. Tem que praticar diariamente ou então vai ficar como eu, sentindo as dores de maravilhosos momentos durante muito tempo.
Um feliz ano novo, e que em 2022 possamos dar um pé na bunda dos chatos escrotos sem amor que vem infernizando nossa vida nos últimos três anos.