Uma estudante universitária que reside em Itaipava/ Itapemirim-ES, identificada pelas iniciais M.A.G não entrou para a lista de vítimas de feminicídio no ES, na noite desta quinta-feira 21, porque o 3º sargento Marcelo da Roza Moreira, responsável pelo registro da Ocorrência, em Piúma, evitou o crime. Ele aprendeu a arma que seria usada pelo namorado da vítima, M.M. S, em cima da cama dela e conduziu a jovem a Delegacia de Itapemirim.
De acordo com o sargento, a jovem estava com o namorado numa casa de show em Guarapari-ES quando começou a discussão entre eles, momento em que o segurança da casa colocou o casal para fora. M, possessivo começou a agredir fisicamente a namorada com murros, socos e chutes, porém foi contido pelos seguranças. A estudante conseguiu escapar dele em Guarapari, pegou o seu veículo e saiu do local sozinha, deixando-o para trás.
Tão logo chegou a Piúma-ES, a mulher avistou a viatura da PM e parou para pedir ajuda. Enquanto a jovem relatava aos agentes a situação, o celular estava recebendo mensagens de áudios do namorado que dizia que ia mata-la ontem mesmo. Não satisfeito com as mensagens ele enviou uma foto da pistola cromada, arma que iria usa-la para tirar a vida dela. Com muito medo de ir para casa sozinha, ela pediu aos policiais que a deixasse dormir dentro do carro dela próximo ao 2º Pelotão da PM em Piúma.
Contudo, conscientes da gravidade do caso, os agentes decidiram levá-la até a sede da Delegacia da Polícia Civil, em Itapemirim, onde foi solicitado uma Medida Protetiva para ela e o caso foi registrado. Enquanto seguia para Itapemirim, durante o trajeto, a moça pediu aos policiais que fossem a casa dela para pegar um documento, uma vez, saiu correndo de Guarapari e acabou deixando a Carteira de Habilitação com o namorado. O homem afirmava que de ontem não passava, ele ia assassina-la.
Quando a Guarnição se aproximava da casa da estudante em Itaipava ela avistou um veículo estacionado. Com muito medo pediu aos agentes que entrassem primeiro a casa, onde ela reside sozinha. O sargento então entrou primeiro e o homem ao perceber a movimentação acabou fugindo pela janela. Porém, durante a fuga dele deixou a pistola 380 em cima da cama da namorada. A mesma arma da foto mandou pelo WhatsApp a ela. Ele também na pressa deixou para trás o aparelho celular e um par de tênis que estava usando no show.
A Guarnição fez buscas nas imediações, mas não logrou êxito em localizar o sujeito. Diante dos fatos foi feita a apreensão da arma e do celular e prosseguiu a Guarnição com a vítima até o DPJ de Itapemirim. Após o registro na Delegacia e a solicitação da Medida Protetiva, a guarnição do Sargento Marcelo retornou a Itaipava com a mulher, por volta das 3h30 da madrugada.
O namorado, acabou voltando a casa da jovem e a espancou. Ela acionou a Polícia Militar e a Guarnição de Itapemirim deu prosseguimento a ocorrência, porém, não conseguiu prender o indivíduo.
O delegado de Itapemirim, Dr. Djalma Lemos disse que vai levantar a ficha do homem e representar pela prisão dele. A informação é que ele tem um curriculum vasto na vida do crime, três processos arquivados, um júri para ser marcado e outros. O namorado da acadêmica responde por homicídio e tráfico de drogas, é oriundo do bairro Zumbi em Cachoeiro de Itapemirim.
O delegado disse que ela já está sob a Medida Protetiva e, se ele se aproximar da casa dela, poderá ser preso em flagrante.
Medo de expor a família
A Reportagem parabenizou a equipe do Sargento Marcelo que conseguiu evitar o assassinato da estudante, ao realizar o procedimento com maestria, ir até a casa dela, apreender a arma, o celular e conduzi-la ao procedimento correto junto a Polícia Civil. Oportunamente, conversou com o sargento sobre o drama que tem levado centenas de mulheres ao cemitério, após serem vítimas de feminicídio nas mãos de homens machistas, possessivos e violentos.
A jovem que reside em Itaipava está namorando com o homem há um ano e meio. Ela contou aos agentes da PM que não consegue se separar do “dito cujo” por conta das ameaças, ele sempre afirma que se ela o deixar, ele a matará. E, nunca representou contra ele por ser de classe média alta, e não querer expor a família, que acabou ajudando o indivíduo violento a montar um comércio para ele no balneário, por isso, ele e ela residem também em Itaipava.
A jovem sentia vergonha porque para a família dela seria um absurdo ela está envolvida com um homem como M. M nunca quis escândalos e nem procurar a Polícia. “Nós fomos conversando com ela e dissemos que ela precisa levar a situação a família que pode apoia-la mais. Não é questão de escândalo e a sua vida está em jogo. Ela disse que não representou por vergonha dela e vergonha de expor a família”.
A cada 10 ocorrências, 9 é violência doméstica
O sargento concordou com a jornalista que disse que é preciso mais do que a ação policial para conter a violência contra a mulher. Políticas de enfrentamento são necessárias. Os municípios precisam ter aparatos, além de viaturas e agentes preparados. Delegacias especializadas, delegadas, conselho da mulher, uma gerência dentro a Assistência Social, uma casa de acolhimento, capacitações, programas de saúde, campanhas de empoderamento para as mais fragilizadas, acompanhamento psicológico entre outros.
“Como você falou, a gente lida com a Lei Maria da Penha, fazemos cursos, mas se tivesse uma casa da mulher, com um psicólogo muitas das vezes minimizava a situação, tira o receio da mulher de denunciar. A jovem afirmou que não denunciou para não expor a minha família, o pai e a mãe. E a vida dela? Eu garanto que os pais preferem ela viva do que morta. Se tivesse uma casa para deixa-la minimizava o problema”.
Em cada 10 ocorrências, segundo o sargento Marcelo, 9 é violência doméstica, embora, há casos em que a mulher parece provocar a situação, quando, aceita beber com o homem no bar, ser agredida, denuncia, vai para a delegacia, não representa e sai de mãos dadas com o agressor e o policial fica com cara de idiota, perdendo tempo com “cachorrada”.
E, tem a mulher independente e corajosa que não aceita ser agredida, nem ameaçada, não aceita que o companheiro a trate de maneira que não seja cordial. “Este tipo de mulher é que são agredidas, assassinadas e perseguidas, porque o homem não aceita. No caso da que bebe e perdoa depois, ele sabe que a mulher sempre vai atrás dele, porque é dependente, infelizmente há estes dois tipos”.
Quando o caso envolve uma jovem de classe média alta, de família tradicional que se envolve com um vagabundo como o de Cachoeiro que deixou a pistola em cima da cama dela, ele acaba achando que a moça é propriedade dele e, acaba matando. “É uma situação muito difícil, este tipo de cara é possessivo, acha que a mulher é só dele. Muitas das vezes ela quer se libertar, mas tem medo de perder a vida. Ela disse, ele vai me matar, eu quero arrumar uma pessoa boa para a minha vida, mas ele não deixa, ele afirmou que se eu arrumar alguém, ele me mata e mata a pessoa que estiver comigo”.
A jovem preferiu ir morar sozinha em uma quitinete para ficar próxima do namorado e se afastou dos pais, com medo ela não denunciava o homem que ontem ele mostrou que quer mata-la e, se a justiça não tomar uma providência imediata concedendo um mandado de prisão a ele, ela pode ser a próxima vítima.
O sargento frisou que a corporação vem fazendo muitos cursos na área da Maria da Penha, se especializa com frequência, entretanto, cada dia mais a demanda cresce. De cada 10 ocorrências 9 são envolvem violência doméstica.