Num daqueles bate-papos nas redes sociais, me chamou a atenção um texto da amiga Maria Elvira. Além de confreira da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), ela é contadora de histórias. Das melhores que já conheci. Pedi autorização para reproduzir o texto aqui no Portal. Ela consentiu, desde que incluísse o comentário da jornalista Célia Ferreira, que também participou daquela virtual conversa pra boi dormir.
Tem coisas que são boas porque são assim, despretensiosas e desprovidas de qualquer juízo de valor, sem conceito ou pré-conceito. Por exemplo, quer coisa melhor que falar da nossa infância! Quem não tem um causo de um tio, um avô, ou mesmo de uma travessura gostosa de lembrar, mas que deu um trabalhão danado no seu tempo?
Elvira falava dos pés de árvores do seu quintal. A Célia lembrou da caramboleira do terreiro dela. Me veio à mente uma profusão de arvoredos com os quais eu literalmente conversava na infância. O principal deles era uma goiabeira do fundo do quintal da casa de minha tia Uyara, onde eu passava as tardes de domingo.
Tagarelava com a goiabeira horas a fio. Podem até não acreditar, mas ela me respondia, me aconselhava e ainda zangava se ficasse um domingo sem aparecer. Ameaçava deixar-se quebrar num galho só para ver-me de bunda ao chão.
Lembro-me que, depois de ler um conto de José Mauro de Vasconcelos, numa das edições da coleção “Coração de Vidro”, passei noites chorando baixinho e falando sozinho. Não conseguia parar de pensar no dia em que fossem cortar aquele pé-de-goiaba. O conto era aquele em que o sujeito já crescido retorna ao quintal da infância e amarra o sapato pisando sobre o toco morto da árvore-companheira (ainda tenho essa terrível imagem na memória).
Pois bem, já estou aqui tagarelando de novo, quando o que queria mesmo era publicar as reminiscências da Maria Elvira e da Celinha. Então, vamos lá. Fica aberto o convite para nossos confrades e confreiras que desejarem falar de suas árvores, dores ou alegrias de infância.
Maria Elvira:
Nasci numa casa com quintal e árvores, há muito tempo! E isso foi uma benção e um grande privilégio para minha bela infância. Subir em árvores é uma aventura imensa, perigosíssima, transformadora!
Eu subia, nós subíamos – Yara, minha prima, e eu. A irmã que eu tive! Havia uma goiabeira, da qual aprendemos a colher os frutos de vez, sob o risco de, comendo os maduros, comermos os bichos da goiaba também!
Havia um pé de limão branco, que mamãe muito amava, sempre farto para remédios e limonadas. O pé de figo nos presenteava com seus belos frutos maduros; mas, o doce feito com os verdes – que mamãe preparava com maestria, também muito nos deliciava.
Mas… havia o pé de carambola, ahhh, o pé de carambola!! Com suas frutas douradas, que eram comidas direto do pé, ou em sucos maravilhosos, ou em compotas estreladas!
Yara e eu subíamos no telhado da casa, pois a árvore era alta, para alcançar seus frutos – e foi lá de cima, que começamos a vislumbrar o mundo! Que poder sentíamos, que alegria!
Era só um quintal, num pedacinho de mundo, mas suas árvores nos proporcionaram as mais carinhosas aventuras, guardadas no “para sempre” de nossas memórias afetivas. A propósito, você teve infância? Vamos subir numa árvore?
Célia Ferreira: (respondendo a Elvira)
Que lindo texto, amiga. Sabe, sou alérgica a carambolas, me dão dores renais terríveis. Mas também tinha árvores em meu quintal e subia em todas. Mas a “minha” árvore era o pé de ameixa. No galho mais alto, que atravessava o topo e se assemelhava a uma cadeirinha, apenas eu podia subir – nenhum amigo tinha essa autorização! Passei ali muitas horas alegres e outras nem tanto. Aliás, quando sumia, por estar embirrada com algum problema da infância, já sabiam onde me procurar. Meu pé de ameixa me acompanha até hoje, na memória e em sonhos. Pena que não possa nele me refugiar nesses dias tão tristes que temos vivido…
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Até!