Desde o mês de setembro vem sendo realizado um importante trabalho de tratamento arquivístico de parte do acervo da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, no município de Itapemirim. Esse projeto, integrado por uma equipe de quatro pesquisadores e dois estagiários, tem como propósito catalogar todo o acervo centenário da Paróquia, que é composto por 104 livros, que possuem 34 mil páginas no total, e que contam a história de todo o sul do estado do Espírito Santo.
Lucas Machado, um dos historiadores, afirma que “trabalhar os livros do arquivo da Igreja Nossa Senhora do Amparo é uma oportunidade ímpar, pois temos a chance de contribuir com a preservação desses documentos e da história, da memória e da cultura sul capixaba”.
O projeto abarca a parte do acervo relativa ao período da escravidão no Brasil. Até o momento, já foram catalogados os 3 livros de batismo de escravizados, datados do período entre 1849 e 1888, além de um livro de óbitos de escravizados, datado entre os anos de 1859 e 1885.
Os três livros de batismo possuem o total de 2.465 assentamentos, sendo que em alguns desses assentamentos eram registrados mais de um escravizado, e o livro de óbitos possui o registro de 684 assentamentos.
Conforme destaca a historiadora Laryssa Machado, “através dos documentos de batismo e óbitos de cativos, conseguimos desvendar aspectos do cotidiano da escravidão brasileira. Tanto as famílias cativas quanto os laços de sociabilidade estão presentes nesses documentos, além das causas de mortes que afetavam essa população. Os acervos eclesiásticos são um tesouro, por isso precisam ser melhor pesquisados”.
“O mais importante objetivo deste projeto é conseguirmos identificar os principais locais de memória da escravidão e da liberdade no sul do estado”, comenta o professor e arquiteto Genildo Coelho Hautequestt Filho, um dos integrantes da equipe de pesquisadores.
Ainda serão catalogados 3 livros de tombo, todos eles do período imperial. Para o arquivista Marcello Furtado, “a oportunidade da realização do tratamento arquivístico adequado, diante das normas e legislações do país, é a garantia para a salvaguarda histórica deste acervo e de sua utilização como plena ferramenta para o exercício de cidadania”.
O projeto conta com o apoio da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, e da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense – entidade sem fins lucrativos que desenvolve inúmeros projetos de valorização da cultura capixaba no sul do estado desde 2000 – e é financiado pelo Funcultura da Secretaria de Estado da Cultura – Secult, por meio do Edital 11/2021: Seleção de Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Inventário, Conservação e Reprodução de Acervos no Estado do Espírito Santo.