Na próxima quinta-feira, 2 de fevereiro, será iniciada, no Conselho Estadual de Cultura, a tramitação da solicitação de Registro da festa Raiar da Liberdade como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo, a qual completa 135 anos de existência em maio deste ano.
Durante a 154º Reunião do Conselho, a equipe do projeto – composta pelas mestras Maria Laurinda Adão, Adevalmira Adão Felipe, Geralda Nogueira Calixto e Neuza Gomes Ventura, juntamente com Fátima Buzatto Moura, Luan Faitanin Volpato e Genildo Coelho Hautequestt Filho – fará a defesa da importância para o Espírito Santo em reconhecer a Festa Raiar da Liberdade como Patrimônio Imaterial Capixaba.
O Raiar da Liberdade é uma festividade tradicional realizada todos os anos, sempre no dia 13 de maio, no quilombo Monte Alegre, situado em Cachoeiro de Itapemirim. Segundo relatos de moradores da própria comunidade quilombola, ela aconteceu pela primeira vez na noite de 13 de maio de 1888, quando escravizados que trabalhavam na estação ferroviária de Pacotuba souberam da notícia por passageiros vindos de Cachoeiro, e logo a levaram para o quilombo. Adão, líder do local naquela época, reuniu a todos e fez o comunicado de que a partir daquele dia havia “raiado a liberdade”. Para comemorar, fizeram uma grande fogueira no centro da comunidade e ali dançaram e cantaram ao som dos tambores do caxambu até o amanhecer. Daí em diante, a festa é realizada anualmente e recebe visitantes e grupos convidados de todo o estado.
A solicitação do registro da festa partiu dos integrantes do grupo Caxambu Santa Cruz, liderados pela mestra Maria Laurinda Adão, a principal organizadora do Raiar da Liberdade há mais de 60 anos, função que herdou de seus avós. A partir de levantamentos técnicos, foi preenchido o Inventário Nacional de Referências Culturais – metodologia criada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para a identificação dos patrimônios brasileiros – a respeito da festividade.
Fátima Buzatto, moradora da comunidade e integrante do Caxambu Santa Cruz, destaca a importância de essa festa ser reconhecida pelo Estado, pois “trata-se, talvez, da mais antiga festa cultural existente no Espírito Santo”. Dona Geralda, de 78 anos, mestra do caxambu, relata que “participar e ajudar a organizar essa festa é uma grande felicidade. Ela é o maior divertimento da comunidade desde que eu era criança”.
Genildo Coelho Hautequestt Filho, um dos responsáveis por reunir as informações da festa para o Inventário, destaca que “esse foi um processo participativo, em que nós apenas transcrevemos as histórias e memórias dos caxambuzeiros a respeito da festa. Mas esse processo não se iniciou apenas com esse Inventário. Na verdade, ele é fruto de mais de 20 anos de pesquisas que eu e outros parceiros fazemos na comunidade, por meio da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense. Em todos esses anos, produzimos livros, documentários, exposições, registros fotográficos e oficinas. Ou seja, foram muitas ações que acabaram viabilizando esse projeto”. Muitas dessas ações podem ser conhecidas no site da Associação, pelo endereço www.afci.site.
O Inventário foi um dos projetos contemplados no Edital 012/2020 – Patrimônios Imateriais Registrados e Reconhecidos, com apoio financeiro do Funcultura, da Secretaria de Estado da Cultura – Secult.