* por Paulo Medeiros
50 anos de formado. É tempo … Mas, sinceramente, não me parece que o ano de 1960 esteja tão longe assim no passado. É verdade que de jovens, com todo o futuro por construir, temos hoje família, netos, uma carreira profissional e alguns até já se aposentaram, como eu.
Lembro-me de minha formatura no científico, no velho salão nobre do LICEU. Foi uma data marcante para todos. Alguns poucos colegas não participaram, pois tinham ido completar os estudos em outras praças, já pensando no vestibular, pois Cachoeiro ainda não tinha faculdades. Mas para mim, além da etapa cumprida, dois fatores tornaram a noite especial: fui o orador da turma e, com surpresa, descobri que havia me classificado como primeiro aluno – beneficiado, é certo, pelo fato de tanto o Roberto Tozani quanto o João Glória de Oliveira não estarem terminando o ano conosco. Se estivessem, certamente eu teria sido o terceiro … Das mãos do diretor, o Dr. Athayr, recebi, como os demais colegas, o diploma. Nossos pais, irmãos, outras pessoas mais chegadas, desfrutando daquele momento, ao nosso lado.
Foram sete anos de LICEU. Alguns colegas vinham desde o primeiro ginasial, outros foram se juntando na minha turma (ou eu na deles), em decorrência da redução do número de turmas, mais numerosas no primeiro ano. Alguns colegas ficando pelo caminho, pois pareciam gostar tanto do currículo que se recusavam a passar de ano … No segundo ano, fiquei sem a convivência do Coelhinho, Walter Esteves Coelho, que repetiu o primeiro ano mais de uma vez. Mas continuamos amigos, eu o visitando na sua casa na Ilha da Luz e ele a frequentar a minha casa. No ginásio, aliás, havia as turmas masculinas e as femininas, os alunos distribuídos por ordem alfabética. Já no cientifico, as turmas eram mistas.
Desde que entrei no LICEU até o primeiro ano do Científico o Dr. Wilson Resende foi o meu diretor.
Não tenho tantas reminiscências como muitos colegas. Neste ponto os invejo. Nunca fui de “aprontar” e assim não há muito o que contar. E minha memória, confesso, é uma peneira de malha grossa: não restou tanta coisa.
Tenho algumas lembranças. Da caminhada diária ao LICEU, que então parecia distante. Descendo a ladeira da rua Cel. Guardia, passando para a Costa Pereira, para a Dona Joana, chegando à antiga ponte municipal, toda de ferro com os pranchões de madeira que deixavam nas frestas ver o rio correndo embaixo. O movimento dos alunos cada vez mais se engrossando com o que fluía de outras ruas. Todos de uniforme, com o dolman cáqui do ginásio ou o blusão azul, mais leve, do cientifico. As meninas com a saia plissada azul e blusa branca. Não me lembro de sentir calor, mas certamente o senti, e muito, com aquele uniforme pesado para o clima de Cachoeiro.
A chegada ao colégio, deixando a caderneta na portaria. Se atrasado, o passo apertado para não perder a hora, o que em geral não acontecia pois havia a mãe a nos tirar da cama a tempo. E no inverno, com o frio, sair da cama ficava mais difícil, especialmente nos dias de educação física, no seu horário ainda mais cedo, das sete da manhã, se não me engano. As conversas com os colegas no pátio enquanto não se formavam as turmas junto a escadaria, os mais baixos na frente, para cantar o hino nacional, o diretor no alto, as turmas subindo para suas salas, uma de cada vez.
A educação física era um dos meus temores. Franzino, tinha dificuldade de me equiparar aos colegas.
Lembro-me de um fato inusitado e certamente constrangedor que ocorreu quando o Dr. Bolivar de Abreu, cachoeirense e secretário de educação, veio ao LICEU. No alto da escadaria ele a fazer um discurso ao lado creio que do Dr. Athayr, então diretor. E os alunos formados, debaixo do sol que foi esquentando. E tome discurso, uma prestação de contas de sua gestão à frente da Secretaria. Os alunos ficando inquietos. Até que alguém mais atrevido, e protegido pela massa de alunos, gritou “chega”. Outros gritos se seguiram. E o Dr. Bolivar dizendo, só mais um momento que estou terminando …Novos gritos, novo pedido de tempo. Até que para desafogo geral o discurso se encerra.
Continua em 24/03 (Parte II)
(*) Paulo Medeiros é economista e membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL)