Em meu último artigo defendi a tese de que três hipóteses podem fazer a diferença numa eleição: dinheiro, grupo político e máquina pública. A análise foi centrada na provável influência do cenário nacional nos pleitos municipais, com foco nas pré-candidaturas de Juninho Corrêa (PL) e Carlos Casteglione (PT), em Cachoeiro. Ambos possuem as posições mais extremas e antagônicas no espectro político local.
Os três fatores, por óbvio, são externos aos candidatos. Podem servir de poderosa alavanca, mas não é só isso que importa. Claro que não! Para que essas variáveis funcionem, é necessário antes de tudo o corpo político, ou seja, a pessoa humana que pretende ganhar a confiança do eleitor e estar de mãos dadas com ele no trajeto escorregadio de casa até as urnas.
O carisma, a empatia, a história de vida, o conhecimento das mazelas da cidade e a capacidade de liderar são algumas dessas variáveis. Mas também não basta. Se o candidato não conseguir enxergar a esfinge na alma da sociedade, decifrar aquilo se passa no vazio, sob a retina das pessoas, todo esforço será em vão. É nessa hora que ficam cegos e são devorados.
Todos esses fatores, externos e intrínsecos, formam o caldo que desagua no voto, para alegria de uns e infortúnio de outros. Essa é a magia da política, o imponderável, a surpresa de última hora. Vimos isso nas eleições presidenciais de 2018, onde Bolsonaro captou aquilo para o qual o establishment virava as costas. A ojeriza à corrupção impregnada na consciência coletiva do brasileiro depois da Lava-Jato.
Vimos também este fenômeno aqui mesmo em Cachoeiro, na primeira vitória de Victor Coelho. Era o azarão, mas seu corpo político tinha elementos novos que rompiam com o passado e trazia de volta a esperança para a população. No caso de Victor, ainda sobrava a comoção popular pela recente (à época) vida interrompida de seu irmão, o deputado Glauber Coelho.
Necessário acrescentar que até 2016 a cidade era governada por Carlos Casteglione. Mesmo não listado e apelidado no departamento de propina da Odebreth, o ex-prefeito serviu de bode expiatório da rejeição popular contra as falcatruas de Brasília reveladas e condenadas pela Justiça de Curitiba. O PT era o Judas da vez.
Victor soube, assim como Bolsonaro, decifrar a esfinge que assombrava as eleições. Já na sua reeleição, em 2020, pesaram mais na balança, e muito, os três fatores ditos lá no início deste artigo. Aí ganhou de lavada. Não podemos dizer o mesmo de Bolsonaro, que falhou ao interpretar a esfinge que descança na alma da sociedade e desperta mal-humorada e faminta a cada dois anos.
Voltaremos ao assunto.