por Romulo Felippe
“Antes de principiar a minha apresentação, preciso de uma tomada para recarregar o meu livro…”. O salão ‘Elmo Elton’ estava apinhado de estudantes entre 12 a 14 anos, na Biblioteca Municipal de Vitória – no largo histórico da Cidade Alta –, intrigados com o escritor que tocava com os dedos a capa da obra impressa e afirmava que o touch parara de funcionar. Que precisaria, ainda, da senha do wifi “para conectar meu livro na internet”. Um instante de silêncio.
A querida bibliotecária, preocupada com a organização do encontro, correu em socorro do palestrante apontando para uma tomada aos pés da parede. Eu a acalmei, assim como aos alunos: “o escritor não está louco; fiz apenas uma alusão aos tempos modernos, nos quais estamos ilhados em celulares, computadores e jogos eletrônicos, entre outros…”. Creio, e não posso garantir, que a gargalhada fora coletiva. Um verdadeiro zum-zum-zum ginasial.
E, mais ou menos assim, dei sequência à palestra literária-motivacional: “livros não precisam de carregadores, nem da conexão com satélites. Esse foi apenas um comparativo com a vida moderna, esta cuja tecnologia praticamente nos escraviza. A eletricidade que existe na relação livro e leitor, de fato, é uma sinergia – uma verdadeira troca de energia entre ambas as partes: o livro nos fornece energia através do conhecimento que adquirimos ao lê-lo, assim como nós empregamos energia ao mergulharmos nas páginas de uma obra impressa.
Creio piamente que os livros são seres vivos. Pulsam, respiram, transpiram ensinamentos. Uma obra literária resguarda vidas em suas páginas, sejam históricas ou ficcionais (ou a fusão de ambas). E se, por um lado, o livro impresso não necessite de recarga elétrica, digo-lhes por outro que são eles seres viventes com alma de papel, responsáveis por recarregar os nossos cérebros. O livro tem cheiro, um perfume de descobertas. Nos dá a sensação de relaxamento ao acariciar uma página e sentir suas nervuras à flor da pele.
Sabe mais? O livro nos remete a um caldeirão de sentimentos. De risos, choros, gozos, paixão, desamor e seja lá o que nos faz vibrar. É assim quando nos sentimentos na pele dos personagens. Até porque, saibam todos, que personagens respiram. E posso lhes provar: quantas vezes, em meu processo diário de escrita de um romance, deparo-me com personagens antes vagos, mas que do nada ressurgem no roteiro. Desavisadamente. Muitas vezes desempenhando um papel surpreendente de forma alguma imaginado para ele. Noutras vezes esses seres acordam este escritor em madrugadas escuras, clamando para que eu vá para o computador, para… libertá-los. Sim, um livro finalizado e lançado (e impresso, oras pois) significa a liberdade de personagens, de universos. Passa a ser uma obra do mundo, e não mais do autor. Se engavetados, são vãos prisioneiros…
Se ainda duvida da latente vivência dos livros, ouse atravessar os portais mágicos das bibliotecas, sejam quais forem, e serão teletransportados – se assim permitir sua mente – para universos incríveis além daqui. Para reinos inimagináveis e galáxias distantes; serão íntimos de reis, rainhas, guerreiros, astronautas e toda sorte de personagens. Você pode voltar centenas ou milhares de anos e encontrar-se com personagens históricos que tanto admira. Quem sabe abraçar ícones dos livros, como o rei Arthur ou o Pequeno Príncipe.
Já dissera George R. R. Martin que o leitor vive mil vidas e o homem que não lê apenas uma. Creia: não importa o caminho que escolha para sua vida. Se, a partir deste momento, tornar o livro um companheiro diário, saiba que suas escolhas estão escoradas pelo conhecimento. Pelo discernimento. Pelo senso crítico. Pelo estímulo do raciocínio, do vocabulário e da amplitude da criatividade.
Ame um livro como o melhor dos seus amigos. Porque, mesmo que em dias pesados a “sua bateria” esteja no fim, basta conectar a sua “tomada” em uma boa obra literária que terá a sua energia devidamente de volta. Full charge”.