André Naves (*)
A transição do home office para o trabalho presencial tem sido uma realidade para muitos funcionários, evidenciando um sintoma preocupante: o da falta de inclusão nas atividades econômicas. Incrivelmente, a insistência no retorno ao trabalho presencial, especialmente por parte dos líderes empresariais, pode ser danosa à produtividade individual, por desconsiderar desafios específicos enfrentados por diferentes grupos.
Essa exigência, muitas vezes, não leva em conta os desafios diários enfrentados, por exemplo, pelas mulheres, que muitas vezes lidam com dupla ou tripla jornada, cuidados domésticos e acompanhamento dos filhos. Durante o período em que vigorou o esquema de home office, esses desafios eram melhor equacionados, promovendo uma divisão mais igualitária nos serviços domésticos e beneficiando a produtividade.
Além disso, a convivência intensiva durante o home office estimulou maior participação dos pais na educação dos filhos, promovendo um acompanhamento mais próximo e favorecendo o vínculo afetivo. O retorno ao trabalho presencial pode comprometer esses ganhos educacionais, impactando a qualidade da interação familiar e a divisão de responsabilidades domésticas.
A pressão para o retorno ao presencial, além disso, parte muitas vezes de líderes empresariais que moram próximo aos escritórios, escapando dos desafios diários enfrentados por quem depende de transporte público, enfrenta o trânsito intenso e se expõe aos riscos urbanos. Isso demonstra uma falta de compreensão das dificuldades vivenciadas por funcionários que moram em áreas mais distantes.
No mesmo sentido, a falta de experiência dos líderes na convivência com pessoas com deficiência resulta na ignorância sobre as dificuldades físicas e emocionais relacionadas ao deslocamento para o trabalho. Rotinas de tratamentos e terapias também são prejudicadas com o retorno ao presencial, colocando em risco a inclusão desses profissionais.
Em síntese, a exigência do retorno ao trabalho presencial revela falta de empatia, falta de consideração, ao ignorar as diversas realidades enfrentadas pelos funcionários. Ao desconsiderar os ganhos do home office em termos de inclusão, equidade de gênero e qualidade de vida, os líderes empresariais comprometem a produtividade individual e coletiva. É fundamental que as empresas repensem suas políticas, reconhecendo a importância da inclusão e da flexibilidade para promover ambientes de trabalho mais produtivos e igualitários.
*André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política. É também Comendador Cultural, Escritor, Professor e Palestrante (Instagram: @andrenaves.def)