O bispo diocesano de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, viajou nesta quarta-feira (6) para a cidade de Accra, na República do Gana (África Ocidental), onde vai participar, nos próximos cinco dias, do “Encontro dos Bispos que Vivem em Situação de Guerra”. O local foi escolhido por sediar o Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (Secam).
Dom Luiz foi missionário e bispo na África por quase 10 anos (2013 a 2021). Por diversas vezes, denunciou internacionalmente a escalada da violência no continente que, nas palavras dele, é patrocinada pelos recursos naturais, multinacionais e guerras.
“Antes de vir para Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, em março de 2021, estive no Vaticano (Roma) a pedido do Santo Padre e conversei com o Papa Francisco sobre minha transferência para cá. Na ocasião, aproveitei a oportunidade e falei dos conflitos que aconteciam e continuam acontecendo em Cabo Delgado, falei do sofrimento da população, dos milhares de deslocados de guerra, dentre outros assuntos”, recordou Dom Luiz.
Ainda segundo o bispo, partiu dele, em conversa com o Papa, a sugestão para se reunir os bispos nas regiões em situação de guerra.
“À época dei uma sugestão ao Santo Padre: promova um encontro dos bispos presentes nas regiões de conflitos e guerras, sobretudo no continente africano. Ele gostou da ideia e pediu para que a escrevesse em uma carta e enviasse ao Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral – nome dado para os departamentos do governo da Igreja Católica – eu escrevi e agora, três anos depois, esse encontro vai acontecer”, explicou.
Os conflitos em Moçambique
Missionários, padres e religiosas de Moçambique estão sendo obrigados a deixar para trás cidades e vilarejos remotos, buscando refúgio em Pemba e outras grandes cidades, já sobrecarregadas com pessoas deslocadas.
Informações fornecidas à diocesecachoeiro.org revelam uma escalada nos ataques por insurgentes armados na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Os grupos insurgentes islâmicos intensificaram suas atividades na região, criando um cenário de medo e insegurança.
“Esse conflito não começou agora! Desde 2017, Cabo Delgado é palco desses ataques de grupos de machababos (insurgentes). Mas desde meados de 2019, a maioria dos ataques são reivindicados pelo Estado Islâmico. Certo é que o alto nível de recrutamento entre as populações locais, principalmente entre a juventude local, tem aumentado muito”, explicou um missionário.
O Bispo de Pemba, Dom António Juliasse, em mensagem enviada à Fundação AIS, alertou para o risco de o sofrimento do povo desta província ser votado ao esquecimento por parte da comunidade internacional.
“O risco maior é serem rostos esquecidos em função de outras guerras no mundo”, frisou.
“A violência perpetrada neste distrito nas duas últimas semanas foi de tal forma que cerca de uma dezena de aldeias, algumas muito populosas, foram visadas, com destruição de habitações e instituições”, detalhou a mais alta figura da Igreja Católica em Cabo Delgado.
Há muito que organizações não governamentais locais e nacionais, e altos representantes religiosos, entre outros, alertam para o fato de a pobreza, a falta de oportunidades, o esquecimento a que tem sido votada a província.
Com informações do site da Diocese de Cachoeiro