Toda essa tragédia no Rio Grande do Sul mostra o quão importante são os estados e municípios se precaverem contra os efeitos dos temporais, que têm se intensificado em volume e frequência. Historicamente, o crescimento das cidades sobre as áreas de escape dos corpos d’água foi desmedido, forçando a sociedade a repensar a forma de expansão dos núcleos urbanos.
A guerra ideológica a respeito do ‘verdadeiro’ culpado por estes fenômenos é nebulosa. Mudanças climáticas sempre aconteceram desde os primórdios do planeta. Há 10 mil anos vivíamos em plena era do gelo. Convenhamos que isso é nada no tempo geológico. Estaríamos antecipando este ciclo? Deixo a resposta para os cientistas, pois é outra a reflexão.
Em 1941, os gaúchos vivenciaram algo parecido. Até então, era a pior enchente já registrada nos pampas, mas o rastro de destruição, vítimas e perdas materiais foi bem menor. Havia menos casas, construções, barragens e pontes para serem derrubadas e muito menos gente, por óbvio, em áreas de alagamento. Ouso dizer que, fosse hoje, não seria diferente.
Esta provocação, vinda dos 60 anos de observação de um ribeirinho, é proposital. Por certo, dá para fazer muito mais para amenizar o problema e o sofrimento das pessoas. Nas cidades, obras de contenção de encostas e de macrodrenagem são o primeiro passo, mas não o derradeiro. Todo o planejamento urbano necessita ser revisitado.
Para sorte dos capixabas, algumas autoridades perceberam isso. Três dos maiores municípios do Espírito Santo estão fazendo o dever de casa. Linhares, Vila Velha e Cachoeiro estão concluindo intervenções fundamentais que, certamente, vão evitar as lágrimas de milhares de famílias e o prejuízo de centenas de comerciantes. São investimentos inadiáveis, feitos pelo governo e prefeituras, que somam alguns milhões de reais.
Nos três municípios, houve e ainda há muita reclamação por conta das obras de macrodrenagem, que, de fato, são incômodas e demoradas. Faz parte. Todavia, aqui da beira do rio Itapemirim, onde a água me levou quase tudo em 2020, prefiro escutar a grita do cidadão irritado com o trânsito ao choro incrédulo daqueles que têm casas e comércio enlameados e destruídos a cada chuva mais intensa. Muitos destes, os mesmos que ora reclamam.
Até!