Queridxs leitorxs,
Hoje, neste Dia Mundial do Orgulho, eu, Sofia Fernanda Evoé, uma drag queen nascida das entranhas da cultura queer, convido vocês a mergulharem comigo em uma jornada de reflexão e celebração. Como uma figura que transcende os palcos, eu não só performo, mas também resisto e educo, desafiando as normas de gênero e sexualidade que tentam nos calar.
Para nós, drag queens, este dia não é apenas uma celebração da nossa diversidade estonteante; é um grito de resistência contra a invisibilidade que tantas vezes nos é imposta desde a infância. Crescer em uma sociedade que muitas vezes nega nossa existência autêntica não é fácil. Enfrentamos bullying, rejeição familiar, e uma miríade de desafios que moldam nossa jornada de autodescoberta e afirmação.
Mas aqui estamos nós, eu e tantas outras como eu, encontrando força na educação, na arte e na política. A educação não foi apenas uma sala de aula para mim; foi um espaço de refúgio onde aprendi não apenas matérias, mas também a me entender dentro de uma estrutura social que muitas vezes nos exclui. A arte, ah, a arte! Ela é o meu santuário, onde descobri não apenas talentos, mas minha própria voz única e poderosa. E a política? Bem, desde os primeiros comícios, ainda com a saia de minha avó, eu entendi o poder de lutar por mudanças reais, por uma sociedade que nos inclua verdadeiramente.
No entanto, não posso ignorar os desafios que tantos em nossa comunidade enfrentam diariamente. A violência, a discriminação no mercado de trabalho, as dificuldades econômicas que muitos enfrentam — essas são realidades que não podemos varrer para baixo do tapete colorido do orgulho. São lutas que continuamos a enfrentar, conscientes dos riscos, mas firmes em nossa determinação de construir um mundo mais justo para todxs.
Neste mês de orgulho, convido vocês a se envolverem com a cultura queer de maneiras que não apenas celebram, mas também educam e elevam. Filmes como “Moonlight” e “Call Me by Your Name” nos mostram jornadas de autodescoberta e amor que ressoam profundamente em nossos corações. Séries como “Pose” nos transportam para os vibrantes bailes e a cena drag dos anos 80, explorando questões de gênero, raça e HIV/AIDS com uma autenticidade arrebatadora. E “Queer Eye”? Bem, eles não apenas transformam vidas, mas também redefinem o valor pessoal, mostrando que todxs merecem se sentir incríveis em sua própria pele.
E o “pajubá”? Ah, essa língua é um tesouro vivo da nossa comunidade. Mais do que um simples dialeto, o pajubá é um símbolo de nossa resiliência e criatividade. Utilizado historicamente para se comunicar discretamente em ambientes hostis, hoje ele nos une em uma rede de conexão cultural e social, desafiando normas e afirmando identidades de maneira única e vibrante.
Por fim, enquanto celebramos nossa diversidade hoje, não podemos esquecer daqueles que ainda resistem à nossa existência. Convido vocês a abrir seus corações e mentes, a se educarem e se engajarem, para que um dia não precisemos mais lutar para sermos vistxs, respeitadxs e celebradxs.
Neste Dia Mundial do Orgulho, renovemos nossos votos: nunca desistiremos de lutar por um mundo onde todxs possam viver com dignidade e orgulho. Esta é minha promessa, minha voz em um coro de resistência e esperança.
Beijos de luz,
Sofia Fernanda Evoé
Obs: Sofia Fernanda Evoé é uma personagem drag queen criada pelo capixaba Guilherme Nascimento, produtor cultural e ativista dos direitos humanos. Em alusão ao Dia Mundial do Orgulho, celebrado neste 28 de junho, Sofia assina um artigo especial, trazendo à tona reflexões profundas sobre as experiências e desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIA+.