No coração do sul do Espírito Santo, encontra-se o município de Anchieta, uma joia rara de prosperidade e história. Com uma arrecadação robusta e um potencial econômico invejável, Anchieta deveria ser um exemplo de desenvolvimento e bem-estar para seus cidadãos. No entanto, a realidade que se desenha é bem diferente.
Com seus 409,691 km² de área e uma população de quase 30 mil habitantes, Anchieta é abençoada por uma localização estratégica e recursos naturais abundantes. A cidade é conhecida por suas praias deslumbrantes e pelo turismo religioso, especialmente após a canonização do Padre José de Anchieta em 2014. Além disso, a economia local é impulsionada pela indústria, comércio e serviços, com destaque para a pelotização do minério de ferro pela Samarco Mineração.
Apesar de toda essa riqueza, a gestão municipal parece ter esquecido de investir em infraestrutura básica para a população. Um exemplo gritante dessa negligência é o estado das quadras esportivas do município. Em uma visita recente ao bairro Alvorada, a vereadora Márcia Cypriano Assad (PODE) constatou o abandono de uma das quadras locais. Sem telas de proteção, com portões quebrados e sem condições mínimas para a prática de esportes, o local reflete o descaso com os jovens da comunidade.
“Como os jovens vão praticar esporte se é assim que eles encontram a quadra?”, questiona a vereadora indignada. A falta de manutenção e investimento em espaços públicos não é um problema recente. Há anos, as quadras de Anchieta estão em estado de abandono, deixando os jovens sem opções de lazer e desenvolvimento.
A situação da saúde em Anchieta é igualmente alarmante. A vereadora tem sido uma voz ativa na denúncia das condições precárias das Unidades Básicas de Saúde. Em sessões recentes, ela destacou a falta de gases e insumos para curativos, a ausência de lancetas para testes rápidos de glicose, a escassez de medicamentos na farmácia popular e a falta de pediatras no Pronto Atendimento municipal. “É desolador ver nossos cidadãos sofrendo por falta de cuidados básicos. Estamos falando de vidas que estão sendo negligenciadas”, afirmou em uma de suas sessões.
A cultura também não escapa das críticas. No ano passado, o The Intercept Brasil revelou que o filho do vice-prefeito foi autorizado a construir em cima do sítio arqueológico Rio Una I, um local de grande importância histórica. A intervenção ocorreu antes que um estudo arqueológico, acordado com o Ministério Público Federal, pudesse ser realizado. “A cultura precisa ser preservada, porque um estado sem a preservação da história e cultura deixa de existir. Muita coisa em Anchieta deixou de existir. O que adianta ter uma casa da cultura e não ter nada? Eu doei para a casa da cultura materiais de acervo familiar do Brasil colonial, mas nunca os vi lá”, lamentou a historiadora e professora Marta Prates.
Além disso, a cidade carece de uma rodoviária, um equipamento essencial para um município que abriga o Santuário Nacional de São José de Anchieta, um importante destino turístico. Em 2016, havia um projeto de construção de uma rodoviária, e até mesmo um terreno foi adquirido para essa finalidade. No entanto, este ano, o terreno foi leiloado pela prefeitura municipal, deixando a cidade sem esse bem tão necessário para fomentar o turismo e receber nossos turistas com dignidade e segurança.
É triste ver que, apesar do enorme potencial econômico e turístico de Anchieta, a falta de interesse político tem impedido o desenvolvimento pleno da cidade. A população, rica em cultura e história, merece mais do que o abandono e a negligência que têm enfrentado. “Nós merecemos mais. Merecemos uma cidade que cuide de seus cidadãos, que valorize sua história e cultura”, conclui a vereadora.
João Simas é Jornalista Investigativo
Nota do autor: Até o fechamento desta edição, a Prefeitura Municipal de Anchieta não se pronunciou sobre os questionamentos apresentados.
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