É uma tradição brasileira distribuir doces em honra a São Cosme e São Damião. Mas é uma prática católica ou umbandista? Para se chegar à resposta, é necessário conhecer os santos e as tradições das religiões de matrizes africanas no Brasil.
São Cosme e São Damião, eram irmãos na fé. Tornaram-se médicos muito famosos também por sua caridade. Levavam a cura do corpo e da alma, fazendo com que seus pacientes conhecessem Jesus e abandonassem os deuses romanos.
“Tornou-se muito conhecido o episódio de uma mulher hemorroíssa, chamada Paládia, que, para agradecer a sua cura, deu três ovos aos dois irmãos. Eles não quiseram aceitar. Mas ela insistiu que, em nome de Cristo, aceitassem. Damião aceitou os ovos, mas Cosme não concordou com esta atitude”, explica o vigário episcopal para Ação Pastoral da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, padre João Batista Maroni.
Como médicos, eles ajudavam na conversão dos seus pacientes ao Cristianismo, por isso, foram perseguidos pelo imperador Deocleciano, que odiava os cristãos. Os gêmeos não negaram a sua fé e foram brutalmente martirizados. “O culto deles começou na Itália, estendendo-se mais tarde por muitas partes do mundo”, completou Maroni.
“A Igreja Católica não distribui doces no dia 26 de setembro. Nesta data, celebra-se apenas a memória litúrgica dos mártires Cosme e Damião. Já no dia 27, a igreja celebra a memória litúrgica de São Vicente de Paulo, defensor da justiça, dos pobres e da paz”, afirma o Monsenhor Dalton Meneses de Penedo.
Orixás da Umbanda
Já o professor Agnaldo Cuoco Portugal, do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília (UnB), explicou que, a prática de distribuir doces veio da associação que os escravos fizeram de Cosme e Damião a orixás da Umbanda e do Candomblé: os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã.
Como havia muita repressão na época da escravidão no Brasil aos cultos africanos, os negros precisavam adorar suas divindades sempre associando a algum santo católico, fenômeno chamado de sincretismo religioso. E foi isso que aconteceu com São Cosme e São Damião.
“Naquela época, os escravos africanos não tinham a possibilidade de cultuar os seus orixás, as suas divindades livremente. Eles tinham que fazer essa associação com alguns santos católicos, pra não serem perseguidos. A tradição de dar doces tem a ver com esses dois orixás crianças que foram associados a Cosme e Damião”, explica o professor.
Fontes: Diocese de Cachoeiro e Agência Brasil