A mestra de caxambu cachoeirense Maria Laurinda Adão, umas das mais importantes personalidades da cultura capixaba, foi uma das figuras homenageadas pela escola de samba Imperatriz do Forte, de Vitória. Com o enredo “Só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor”, a agremiação faz uma reverência à riqueza cultural e histórica de Luanda e propõe uma nova visão sobre o povo e a identidade que formam o Brasil, valorizando as raízes africanas e a resistência preta.
Maria Laurinda – mestra do grupo de caxambu Santa Cruz, do Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim – é citada nos versos do samba: “Eu vou dançar maracatu, caxambu e capoeira/Manifestar minha raiz a noite inteira/Identidade de Laurinda e outros mais”. Segundo Daniel Modesto, Presidente da escola, “a escolha de citar Maria Laurinda no samba-enredo vem da forte ligação da mestra com a cultura afrodescendente e popular. Sua trajetória de vida, marcada pela preservação do Caxambu e pela luta em diversas frentes sociais, simboliza a resistência, a ancestralidade e a força do povo negro. O convite para ela estar presente no desfile é um reconhecimento a essa trajetória, além de uma forma de tornar essa homenagem ainda mais viva e pulsante na avenida”.
Maria desfilou em um dos carros alegóricos da Imperatriz, ao lado de sua irmã Adevalmira Adão Felipe (mais conhecida como Dona Ilinha), que também é mestra do grupo Santa Cruz. Adevalmira é a responsável por acender a fogueira antes de cada roda de caxambu e por tocar o tambor, sendo ela a única mulher no Espírito Santo a desempenhar essa atividade. Ambas as mestras são certificadas como Patrimônio Vivo de Cachoeiro.
“Estou muito feliz de receber essa homenagem! É um reconhecimento do caminho que eu já percorri e do trabalho que eu e o meu grupo de caxambu fazemos. Monte Alegre inteira está representada nesse desfile, e a cultura de Cachoeiro também”, declara a mestra, que, na ocasião, também se encontrou pessoalmente com o cônsul-geral de Angola no Brasil Mateus de Sá Miranda Neto, uma das personalidades homenageadas pela Imperatriz do Forte este ano.
“O caxambu, enquanto manifestação ancestral, é um dos pilares da cultura capixaba, expressando a força da oralidade, da música e da espiritualidade negra. Valorizar Maria Laurinda e o caxambu é reafirmar que nossa cultura pulsa forte, enraizada na história de quem veio antes e ecoando para as próximas gerações”, comenta Daniel Modesto. Ele afirma, ainda, que “a Imperatriz do Forte reconhece Maria Laurinda como uma das grandes guardiãs das tradições afro-brasileiras no Espírito Santo. Como Mestra do Caxambu de Monte Alegre, ela carrega consigo não apenas os cantos e os tambores, mas também a memória e a identidade de um povo que, por gerações, encontrou na cultura popular uma forma de resistência e pertencimento”.
A mestra
Maria Laurinda é mestra de caxambu, parteira, coveira, líder comunitária, mãe de santo, ativista e uma das maiores representantes da identidade e da cultura negra no Espírito Santo e no Brasil. Há mais de 60 anos está à frente de um dos mais tradicionais grupos de caxambu do estado, o Santa Cruz, que foi certificado pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil. Em 2009 recebeu o Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba e o Prêmio Mestra Dona Izabel, concedido pelo Ministério da Cultura. Em 2010 ganhou também a certificação de Patrimônio Vivo de Cachoeiro, pela Lei Mestre João Inácio. Em 2018 foi agraciada com a Comenda Rubem Braga e, em 2023, com a Comenda Domingos Martins.
Sua importante trajetória de vida já foi registrada no documentário Todas as faces de Maria, em 2012. Posteriormente, esse projeto se transformou em um livro de mesmo nome – também lançado pessoalmente em Moçambique, na África – e em uma exposição fotográfica, que foi exibida em Vitória, Santa Leopoldina, Santiago (Chile) e Cachoeiro, sua cidade natal, entre 2014 e 2016. Seu grupo organiza a tradicional festa Raiar da Liberdade, que acontece anualmente, desde 1888, no dia 13 de maio, a qual foi reconhecida, pelo IPHAN, como Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo, em 2024.
Ainda no ano passado, o projeto intitulado “Trilhas do Quilombo Monte Alegre” – que reúne um conjunto de ações realizadas no local de moradia e atuação de Maria e seu caxambu – foi contemplado com o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, a mais alta premiação na área da preservação e da salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro. fonte: site brasil61