Aprender Dançando: Uma leitura de mundo

C O M P A R T I L H E

A vida é feita de movimento, uma escola presente só cumprirá seu papel lúdico e psicomotor instrumentando a dança de forma pedagógica. Em minha trajetória de vida, tive a oportunidade de vivenciar diversas experiências em que a arte da dança me proporcionou múltiplos aprendizados com seus amplos processos naturais de desenvolvimento lúdico e psicomotor. Buscando compreender de forma científica essas influências da arte e cultura como práticas pedagógicas criativas, destaca-se a extrema importância como intervenções corretivas sobre as problemáticas sociais e educacionais, como violência intrafamiliar, vulnerabilidade e risco social, envolvimento com o crime, indisciplina, repetência e o recente aumento da evasão escolas no país. A arte tem poder de humanização, de transformação, por isso é grande aliada para minimizar os quadros alarmantes citados.

Atendendo aos atualizados conceitos didáticos do prazer em aprender-ensinar e da metodologia com ludicidade, com a mediação de conteúdos dançantes desenvolve-se habilidades integrais de forma mais atrativa na escola, mesmo antes da alfabetização, complementando o currículo e o projeto político pedagógico. Comumente, problemáticas referentes à efetivação da dança nas escolas são identificadas, pontuando-se a demonização do corpo e a falta de conhecimento dos docentes, resultando em coreografias construídas de maneira vaga, sem significação, resumindo-se apenas para complementar os eventos do calendário escolar. Por isso se faz necessário estudos sobre conceitos, fundamentos e métodos da dança educativa.

O diverso acervo referencial de Freire, alinham-se aos estudos de Laban de forma a contribuir para uma educação mais prazerosa e significativa a partir de toda amplitude de leitura de mundo, conceito que visa à formação ampla do sujeito, integralmente crítica, reflexiva, social e cultural.

Paulo Freire, em memória, destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, alfabetizando centenas de pessoas com didáticas que estabelecessem uma relação entre teoria e prática, texto e contexto, defendendo uma escolarização como consciência política e humanista. Freire foi condecorado patrono brasileiro da educação brasileira pela importância de seus estudos. Idealizando um ensino democrático internacionalmente, suas obras são referência para inspiração e motivação de novas práticas educacionais.

A Educação precisa se reinventar para atender o mundo pós pandemia, e não só os eletrônicos devem tornar-se atrativos, mas o resgate das brincadeiras dançantes de roda e cantigas, por exemplo. Estimulando a preservação da cultura local, através da nossa expressão corporal e social. Por isso conclui-se que a dança pode ir além das disciplinas de educação física e arte e dos tempos de intervalo, pois tem capacidade de envolver todos os conteúdos educacionais, alcançando família e comunidade nos resgates culturais, além de mostrar-se como atividade segura, divertida e motivadora no retorno as aulas.

A dança é uma arte, e como toda arte – é prazerosa e transformadora. Estimular o aprofundamento teórico e futuras produções científicas para expor, discutir, refletir, pesquisar e efetivar novas práticas em torno da dança educativa é essencial na consolidação da leitura de mundo nas escolas brasileiras.

O estudo sobre a dança, a partir de outras áreas científicas, pode indicar possibilidades futuras de reflexão e pesquisa para aqueles que pretendem ampliar/aprofundar as fronteiras do conhecimento sobre a dança e também sobre seu ensino.

Espera-se que essas reflexões levem a conexões de novas ideias e discussões, sobretudo do aprofundamento da dança educativa como leitura de mundo, contemplando a necessidade de ideias significativas para uma retomada as aulas pós suspensão pandêmica. Na busca de uma formação acadêmica mais coerente com a realidade contemporânea de crise e o papel dos processos educativos, culturais e sociais nesse contexto explicitado.

Quem é Guilherme Nascimento?

Trabalhador capixaba da classe popular, foi menor aprendiz na Itapuã Calçados, estagiário na Flecha Branca e gerente nas lojas Tutti. Através de bolsa de estudos é formando em Pedagogia e Gestão Pública. É criador do projeto de dança ASAS da Cultura de Itapemirim. E atual presidente da Casa Roxa Cultural em Marataízes. Guilherme é produtor cultural, artista múltiplo e educador social. Escreve, compõe, dança, coreografa, atua e dirige. Com apenas 28 anos o aquariano é liderança da diversidade, da juventude e da classe artística no sul capixaba. Criador da Semana +Visibilidade +Orgulho, projeto contemplado com o prêmio estadual de cidadania LGBTQIA+ pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos.