*por Arlindo Pinheiro Neto
Começo a coluna dessa semana lembrando do Alexandre Mignone, que hoje escuto pelas ondas da Rádio Cachoeiro FM. Apesar de ser um esquerdista inveterado, como diz o Mauro Roger, é gente de boa cepa, uma bandeira (vermelha) da crônica capixaba. Era o melhor jogador de basquete do Polivalente. Um forte abraço, amigo.
Mas o caso que conto hoje se deu nos anos 1970, ali nas fraudas de Cachoeiro de Itapemirim, onde o trem passava soltando fumaça pelas ventas e rugindo feito leão no cio. Ou leoa, se pensarmos nas locomotivas da Leopoldina. Aliás, nome de uma cidade garbosa da nossa mineiríssima Zona da Mata.
Éramos adolescentes, estudantes do Polivalente, de tantas recordações e traquinagens. Discute-se muito educação no País, mas penso que se olharmos para trás a história dos Polivalentes deveria ter um capítulo especial, de sucesso. Quanta gente boa passou por lá. Gente graúda e miúda. Não tinha escola particular que fizesse frente.
O fato é que o causo é outro, assim como os tempos. Vou começar pelo grito do lanterninha do trem. Sim, havia os lanterninhas dos cinemas também, mas esse era o vigia da Leopoldina.
– Argemiiiiiiiro, aqui tem dois!
O grito ecoou por toda a antiga Estação Ferroviária de Cachoeiro.
Após o término das aulas no Polivalente Guandu, um bando de alunos, bando mesmo, vazava por um buraco na cerca em direção à linha do trem na altura da Ilha da Luz para pegar uma carona nos vagões que ali passavam naquele horário. Entrávamos e saíamos com o trem em movimento. Perigo absurdo, absoluto e delicioso.
A Rede Ferroviária mobilizou seus seguranças para coibir tal prática, que no meu entender era a melhor hora do dia. Até que fomos pegos, ou quase. Eu e o Rominho Lesquives Depolo nos escondemos no banheiro do vagão. Para o nosso desespero, o amigo do Argemiro nos achou. O Rominho, como um gato, pulou pela pequena janela do banheiro com o trem ainda em movimento e eu, seguro pela camisa, comecei a gritar para o Rominho… tá maluco, quer morrer!
Foi o suficiente para ganhar a confiança do segurança, que soltou minha camisa. Ato contínuo, como a sombra de um gato, também pulei a janela.
Por onde andarão Argemiro e seu amigo?
(com a colaboração de Basílio Machado)