O resultado das últimas eleições trouxe novos ares ao quadro político estadual. Algumas lideranças emergiram e outras perderam força. Entre as que decepcionaram, destaco o senador Magno Malta (PL), que liderou um processo sucessório municipal vexatório. Erros grosseiros e excesso de vaidade levaram o PL capixaba a um dos piores desempenhos no país. Fez nada.
Por outro lado, tem os que ganharam potência. Destacaria o prefeito eleito de Cachoeiro de Itapemirim, Theodorico Ferraço (PP) e Arnaldinho Borgo (Podemos), reeleito em Vila Velha. Ferraço dispensa comentários, já tem sua história gravada na retina dos capixabas. É jequitibá frondoso. Então, por hora, vou me ater ao segundo caso, que nos leva a um olhar mais adiante, quando será um player cobiçado nas eleições de 2026.
No mercado político, Arnaldinho já está precificado. As apostas o colocam em direção à cidade alta, com assento no Palácio Anchieta ou na Fonte Grande, dada sua boa relação tanto com o governador Renato Casagrande (PSB) quanto com o seu vice, Ricardo Ferraço (MDB). Resta saber quando e onde ele quer chegar e aguardar as barcas passarem sob a terceira ponte.
Mas, afinal, o que fez Arnaldinho conquistar a confiança de quase 80% dos canelas-verdes? Estamos falando de 193.451 eleitores, a maior votação em números absolutos entre os prefeitos da Região Metropolitana do Estado. Mais que uma Cachoeiro inteira.
Vamos olhar para trás: em 2012, ele foi eleito vereador na primeira disputa eleitoral, com 2.027 votos. Quatro anos depois, praticamente triplicou de tamanho, sendo reeleito com 5.932 votos, tornando-se à ocasião o parlamentar mais votado de Vila Velha.
Numa sequência vitoriosa, em 2020, ganhou o primeiro mandato de prefeito. Apostou numa gestão moderna, na responsabilidade fiscal e, principalmente, no estímulo ao crescimento econômico da cidade, que já chega a 500 mil habitantes. Entendeu que para distribuir o bolo é necessário primeiro fazê-lo crescer.
Para se ter ideia, no exato momento em que rabisco estas palavras, 86 novos edifícios estão em construção em Vila Velha. A título de comparação, não temos isso no centro estendido de Cachoeiro. São 2.578 empresas ligadas à construção civil na cidade, que tem a segunda maior valorização imobiliária do Brasil nos últimos 12 meses – 14,96%.
Não à toa, Vila Velha é a maior geradora de postos de trabalho no Espírito Santo.
Conforme o 42º Censo Imobiliário do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Vila Velha é o maior canteiro de obras capixaba e recebeu, apenas no segundo semestre de 2023, 48,9% do total de novas unidades imobiliárias lançadas em todo o Estado. Cresce mais que uma Jerônimo Monteiro por ano.
Por aí dá para entender o que se passou na cabeça dos vila-velhenses na hora de digitar o voto. Contudo, o sucesso não vem por acaso. A colher de pau do governador Renato Casagrande mexeu – e muito – esse angu. Já no primeiro ano da gestão de Arnaldinho, o Estado aportou R$ 2 bilhões em parcerias e investimentos efetivados e contratados no município. Nos últimos quatro anos, foram R$ 3,5 bilhões, somando recursos municipais e estaduais.
Outra marca do primeiro mandato: ampliou em mais de 80% o orçamento municipal, que saltou de R$ 1,233 bilhão para R$ 2,230 bilhões.
Mas não para por aí. Nos quesitos sustentabilidade e mobilidade urbana, a gestão de Arnaldinho transformou os hábitos de boa parte da população, graças às concessões e parcerias com a iniciativa privada. Hoje, são 1.200 patinetes elétricos à disposição dos usuários de Vila Velha, que se somam às 140 bikes elétricas compartilhadas e outras 210 bicicletas convencionais. Estas últimas, graças à parceria com Sicoob e Unimed, que merecem ser citadas.
Tudo distribuído em dezenas de estações localizadas em pontos estratégicos e monitoramento por GPS, para evitar desvio e furto. O serviço não é gratuito, mas tem preços módicos, como deve ser. Só no primeiro mês de lançamento, as bikes registraram 14.444 deslocamentos urbanos. Para conhecimento, o pacote de aluguel das bikes está valendo R$ 18,00 por mês. Não dá para reclamar.
Nessa toada ambiental, poderia ainda falar dos parques lineares sobre os velhos e problemáticos canais da cidade, que nasceu em área alagadiça, das obras de macrodrenagem, dos novos complexos esportivos e de lazer e do sistema de comportas inteligentes do Rio Marinho. Mas vou ficar por aqui.
Decerto que, alheio aos ideologismos do cardápio político nacional, Arnaldinho tocou seu trabalho sem se preocupar com rótulos. Diria que joga pela centro-esquerda, mas chuta mesmo é com a perna direita. E costuma fazer gol de placa.
Até!