por Guilherme Nascimento
A governança global está em crise. A guerra na Ucrânia expõe as falhas de um sistema internacional que perpetua conflitos, favorece interesses econômicos de grandes potências e marginaliza países emergentes no debate global. O episódio recente do embate televisionado entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi um reflexo desse cenário: uma guerra sem solução concreta, líderes sem consenso e uma comunidade internacional que se divide entre interesses políticos, militares e econômicos.
O evento acendeu um alerta sobre o papel dos Estados Unidos na geopolítica global e sua histórica relação com guerras como ferramenta de influência. Enquanto isso, o Brasil, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, assume uma postura de liderança crítica, defendendo uma reforma no Conselho de Segurança da ONU e exigindo mais representatividade para países emergentes. Diante desse contexto, surge uma proposta ousada: por que não uma Convenção Global pela Paz, liderada por nações que não dependem da guerra para manter sua relevância no mundo?
O Conflito na Ucrânia e a Reação de Trump
A guerra na Ucrânia, iniciada em 2014 com a anexação da Crimeia pela Rússia e intensificada em 2022 com a invasão russa, tornou-se um dos conflitos mais polarizadores da atualidade. O Ocidente, liderado pela OTAN e pelos Estados Unidos, apoiou a Ucrânia com bilhões de dólares em armamentos e assistência militar, sob o argumento de conter o expansionismo russo.
O recente encontro entre Trump e Zelensky, em fevereiro de 2025, mostrou um impasse diplomático profundo. O presidente norte-americano acusou Zelensky de ser “desrespeitoso” e exigiu que a Ucrânia fosse mais “grata” pela ajuda recebida, ao mesmo tempo em que insinuou que Kiev precisaria fazer concessões para garantir um cessar-fogo. A tensão escalou quando Zelensky se recusou a negociar com Vladimir Putin, chamando-o de “assassino”. Trump, por sua vez, celebrou um suposto “acordo justo” sobre recursos minerais ucranianos, sugerindo um viés econômico oculto por trás da ajuda americana.
Os Estados Unidos e o Lucro com Guerras
A postura de Trump não surpreende quando se analisa o histórico dos Estados Unidos em guerras globais. Desde a Segunda Guerra Mundial, Washington se beneficia economicamente de conflitos, seja vendendo armamentos, reconstruindo nações devastadas ou garantindo acesso privilegiado a recursos estratégicos. O apoio à Ucrânia não é diferente: além da influência geopolítica, há o interesse direto nos recursos naturais do país, especialmente minerais essenciais para a tecnologia e a indústria militar.
Essa estratégia de guerra como negócio fortalece a posição americana na política internacional, mas aprofunda desigualdades e mantém um sistema de governança global baseado no poderio militar, em detrimento da diplomacia e da cooperação.
E o Brasil? Como o Mundo Nos Vê?
Enquanto potências ocidentais lucram com a guerra, o Brasil se posiciona de forma diferente. O presidente Lula, desde sua posse, tem defendido a necessidade de reformar a ONU, questionando o domínio das grandes potências no Conselho de Segurança. Em discursos na ONU, o líder brasileiro tem sido incisivo ao afirmar que a governança global precisa incluir mais nações emergentes para ser verdadeiramente democrática.
O Brasil, como um dos líderes dos BRICS, mantém relações diplomáticas equilibradas, dialogando tanto com o Ocidente quanto com países como China, Rússia e nações africanas. Essa posição gera aliados estratégicos, mas também coloca o país em atrito com setores conservadores da política internacional que veem a ascensão das nações emergentes como uma ameaça ao atual equilíbrio de poder.
Os principais aliados diplomáticos do Brasil incluem:
Países do BRICS (China, Rússia, Índia e África do Sul);
Países latino-americanos alinhados à cooperação Sul-Sul (Argentina, Bolívia, Venezuela);
Nações africanas e asiáticas que veem o Brasil como parceiro estratégico na ONU e no comércio global;
Por outro lado, o Brasil enfrenta resistência de nações que dominam o cenário global:
Estados Unidos e seus aliados na OTAN, que rejeitam mudanças no Conselho de Segurança da ONU;
Países europeus conservadores que defendem a manutenção do atual modelo de governança;
Setores do mercado financeiro global que temem o fortalecimento de economias emergentes.
A Proposta da Convenção Global pela Paz
Diante da ineficácia da ONU em evitar guerras e da manutenção de um sistema que favorece potências bélicas, surge a necessidade de uma Convenção Global pela Paz. A ideia, proposta neste artigo, sugere um novo fórum global que reuniria países emergentes, instituições humanitárias, movimentos sociais e lideranças influentes para debater um modelo alternativo de governança mundial.
Quem Participaria Dessa Convenção?
A Convenção não excluiria a ONU, mas serviria como uma ação independente para pressionar mudanças estruturais. Os principais participantes poderiam ser:
Movimentos sociais e ONGs globais, como Médicos Sem Fronteiras, Greenpeace, Carta da Terra e Aliança das Civilizações, que já atuam na promoção da paz e da justiça social.
Famílias reais com influência diplomática ativa, como a Casa Real Britânica, a monarquia norueguesa, a Família Real dos Países Baixos e a Casa Real da Jordânia, que frequentemente mediam crises internacionais.
Lideranças religiosas e humanitárias, como o Vaticano e instituições cristãs, islâmicas e budistas comprometidas com a paz.
Bancos multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que poderiam financiar projetos humanitários em regiões afetadas por guerras.
A Convenção teria como objetivo não apenas pressionar por um cessar-fogo na Ucrânia, mas também criar mecanismos que reduzam a dependência da guerra como ferramenta de influência global.
A Convenção Pela Paz é Viável?
A proposta de uma Convenção Global pela Paz enfrenta desafios significativos. A resistência das potências militares é um dos principais obstáculos, pois os países que lucram com conflitos dificilmente apoiariam uma iniciativa que limitasse sua influência.
Entretanto, há precedentes históricos que mostram que acordos internacionais podem reformar a governança global. A criação da ONU após a Segunda Guerra Mundial foi um exemplo disso. Além disso, fóruns como o G20 e os BRICS demonstram que nações emergentes podem se unir para formar coalizões poderosas.
O grande desafio é transformar a Convenção em uma força real de influência, capaz de pressionar mudanças na ONU e mobilizar a opinião pública mundial a favor de um modelo mais democrático de governança.
Conclusão: Um Novo Caminho para a Paz Global
O barraco entre Trump e Zelensky na Casa Branca escancarou um problema profundo: o atual modelo de governança global não consegue garantir a paz. Os Estados Unidos continuam utilizando a guerra como instrumento de poder, enquanto nações emergentes buscam uma nova abordagem.
O Brasil, sob a liderança de Lula, vem se consolidando como uma voz crítica nesse cenário, exigindo reformas na ONU e promovendo um discurso pacificador. Mas, além de discursos, o mundo precisa de ação.
A Convenção Global pela Paz, proposta neste artigo, poderia ser um passo essencial nessa direção. Ao reunir países emergentes, movimentos sociais, famílias reais influentes e instituições financeiras, essa iniciativa poderia reformular as bases da política internacional.
A questão que fica é: o mundo está pronto para um modelo de governança verdadeiramente democrático ou continuará refém das grandes potências e de seus interesses bélicos? O futuro da política internacional pode depender da resposta a essa pergunta.

Nota da redação: As opiniões dos colaboradores não correspondem, necessariamente, com as do PORTAL DE NOTÍCIAS 24 HORAS.







