Fosse falar de um vilarejo do interior, usaria a expressão “está do jeito que o diabo gosta” para definir a satisfação de uma criança pobre quando ganha um brinquedo novo. No caso em tela, por se tratar de um município praiano, vou usar outra mais apropriada: “nadando de braçada”.
Assim estou vendo o prefeito de Marataízes, Toninho Bitencourt (Podemos), nesse seu retorno à casa que comandou de 2005 a 2008. Na ocasião, teve um primeiro mandato tão bem avaliado que acabou relaxando e cometendo equívocos eleitorais primários. A cochilada lhe custou caro: a reeleição.
“Oleiro que não vigia a brasa deixa o fogo apagar ou a obra queimar”, ensinou o saudoso mestre Fulica, artesão de mão cheia, que sabia temperar o forno de onde tirava o sustento da família. Ácido nas críticas e doce na poesia que impregnava suas talhas, vasos e moringas.
O tempo passou, na verdade foram 16 anos entre a primeira gestão de Toninho e esta que começou agorinha. Chega com as baterias carregadas, após uma campanha difícil, lutando contra uma máquina pública vitaminada e o nariz torcido de algumas das velhas lideranças locais.
A vitória que alcançou nas urnas teve ingredientes com os quais Toninho sempre foi reticente. Tido como turrão ou mesmo “cabeça dura”, era difícil de lidar, nas palavras de alguns dos antigos adversários. Creio que poderia ter voltado antes, não tivesse a sina de só andar reto. A experiência, desta vez, lhe indicou o caminho das curvas, onde, também ensinava Fulica, a beleza seduz e se resguarda. Sem trocadilho.
Desta vez, Toninho se reconciliou com alguns tradicionais desafetos, que nos últimos embates estiveram do outro lado da corda. Também soube suportar com leveza os ataques inimigos, que vieram de forma impiedosa. Traçou uma linha e andou reto, todavia, quando necessário, fez como Wassily Kandinsky em suas abstrações, contornou suavemente as barreiras que lhe eram impostas pelo traço retilíneo da personalidade.
Agora que a página virou é preciso governar. Diria mais, é hora de firmar o timão e tocar o barco, mesmo que esteja com furo no casco. É grande o desafio que tem pela frente. O ex-prefeito, Tininho Batista (PSB) mergulhou, mas não adernou. E deixou uma marca indelével, com digitais nos quatro cantos da cidade. Palavras não bastam para apagá-la.
Ao mostrar o rombo de R$ 150 milhões que afirma ter herdado do antecessor, Toninho não o fez com sentimento de ódio, de revanchismo ou como desculpa para possíveis cobranças do eleitorado. Pelo menos, foi a impressão que tive. Até porque, elas virão mesmo assim, com ou sem furo nas contas.
Importante foi fazê-lo sem demonstrar fraqueza ou desânimo com o que vem pela frente. Ácido nas críticas, mas suave como as curvas que delineiam as praias maratimbas ao prever um futuro mais auspicioso para o município. Assim seja!
Até!