Toda época de eleições é época de amigos deixarem de se falar, quando deveria ser o contrário. É também época de aparecerem notícias, cada uma mais louca que a outra, sobre isso ou sobre aquilo, mostrando os erros dos desafetos.
Eu confesso que não tenho uma ideologia definida, pois já votei em candidato que era de direita e hoje é de centro ou esquerda, já votei o voto de rebeldia dos meus 18 anos do antigo MDB e vejo este partido hoje como um trambolho que não desempenha mais o papel para o qual foi criado.
Quando rapaz, odiava o Lula, pois representava na minha cabeça um perigo para a minha estabilidade de trabalho com aquelas greves monumentais lá no ABC, induzindo-me a votar em candidatos claramente comprometidos com os patrões, tipo Afif Domingues. Só não cometi o erro de votar no Collor, mas sofri com um dinossauro que continua lá em Brasília desde o tempo da ditadura, lambendo as botas dos militares, o ex-presidente José Sarney.
Por fim me rendi ao apelo trabalhista e votei no Lula, talvez decepcionado com o que faltou de políticas sociais no governo FH, embora ache que ele preparou o caminho para o Lula. Todas estas colocações são como uma justificativa por ter também votado na Dilma, e reconhecer que ela e o PT estão perdendo o bonde da história. Vejo um governo sem rumo que vive das conquistas sociais do governo de Lula, e pior ainda, manchado cada vez mais por denúncias de corrupção e incompetência.
Estou escrevendo isto porque, mesmo com tudo o que tem acontecido no governo , ainda acredito que as políticas de distribuição de renda, programas de redução de desigualdades e que as políticas educacionais deveriam ser mantidas e me causou espanto, e até medo, ver um dos candidatos hoje no Jornal da Band, em um congresso de médicos em Brasília, dizendo que vai acabar com o programa Mais Médicos, como se um programa que tem ajudado tanta gente deva ser abolido em nome de corporativismo da classe médica brasileira.
Só reclama dos programas sociais quem não conhece a realidade de uma grande maioria de cidades do Brasil, principalmente Norte e Nordeste, nas quais coisas simples como almoçar ou jantar em um restaurante, que agora virou rotina para nós nos fins de semana, é uma coisa impossível. Pessoas que se saírem de sua terra por falta de ajuda dos programas sociais terão que vir para as cidades, aumentar ainda mais os índices de violência, que nas grandes cidades já é altíssimo.
É necessário que entendamos que as escolhas que fazemos podem ser certas ou erradas, mas o que não podemos é ficar olhando os próprios umbigos, sabendo que somos parte de um todo e que se nos elitizarmos, pensarmos apenas em nossos interesses, teremos que construir mais guetos, cadeias ou campos de concentração, para dar conta de tanta pobreza.
Sinceramente, gostaria de ver novos candidatos, com propostas que aliassem crescimento econômico e conquistas sociais, controle de inflação com desenvolvimento, coisas que atualmente não caminham junto, mas mesmo que perca amigos mesmo sem querer, não darei meu voto a candidato nenhum que ameace as conquistas que os menos favorecidos obtiveram, portanto, se algum de meus amigos se aborrecer comigo, quero que saibam que o diálogo é o melhor caminho em um regime democrático mesmo capenga como o nosso.
Publiquei isso em 2014 e, surpreendentemente, continua valendo para mim.