por Marco Aurélio Borges*
Fred Mercury devia ser o patrono do dia das mães. Pelo menos do meu dia das mães.
Explico: se música foi e ainda é um dos assuntos privilegiados das minhas conversas “mãe e filho”, o Queen está sempre por aí no ranking dos debates principais. Me recordo ainda que vagamente do primeiro Rock´n´Rio. Eu lá fazendo companhia à mamãe enquanto desfilavam na TV os roqueiros mais malucos da época até o histórico show dos ingleses.
Fui para o Conservatório bem novo. Ideia de mamãe, claro. Aquele tempo, anos 80, o mundo era meio que mais libertário que o atual; meio que menos libertário que o atual. Renato Russo já gravava música criticando o governo, mas a rádio não deixava a gente ouvir o palavrão de Faroeste Caboclo. Vai entender. Sempre digo aos meus alunos: existe a teoria e existe o Brasil. A escola que estudava – essa sim bem pouco libertária – dava duas opções para a Educação Artística, artes plásticas e música. A minha foi música, mas as aulas eram só de teoria, partitura. No conservatório, raramente colocava os dedos nas cordas. Aulas de partitura. Teoria, teoria, teoria. Não dei conta. Achei que dava para ser roqueiro sem tantos pontinhos, linhas e símbolos estranhos.
Enquanto vivia meu dilema entre partituras e cordas, mamãe acompanhava de perto o drama do Fred Mercury. Embora uma pessoa do seu tempo e do seu lugar, nunca vi mamãe recriminando o estilo de vida nada tradicional do vocalista do Queen. E nisso fui aprendendo a liberdade. E Fred se foi. E Cazuza se foi. Ambos ceifados pelo HIV. Foucault também se foi naquela época pela mesma doença, mas a filosofia, em mim, estava só no nome, escolhido nos tempos da faculdade que minha mãe abandonou por causa dos casamentos da vida, que tanto limitaram mulheres de potencial como ela.
Acabei menos roqueiro que filósofo, apesar de algumas inserções discretas no mundo do Rock com minha Fly V ao estilo Scorpions, banda que vi pela primeira vez naquela noite de Rock´n´Rio na companhia de Dona Maria Lúcia.
Por essas e outras que Fred Mercury devia ser o patrono do dia das mães. Pelo menos do meu dia das mães. Felizes filhos e mães que tem um Fred Mercury para lembrar no dia das mães.
Obrigado Fred.