por Marco Aurélio Borges*
Completei seis meses morando longe da minha cidade natal. Confesso que já começo a sentir os sintomas do estranhamento. É o mar, sem dúvida, o que mais me faz falta nos dias longe da nova casa. Algumas coisas são bem comuns aqui e acolá, como os motoristas mal-educados que não usam setas e os motoboys desesperados para ganhar um troco a mais ignorando acintosamente os sinais vermelhos. Afinal, sinal vermelho deve ser coisa de comunista.
Minha ida para Vila Velha tinha algo anunciado. Fiz a pesquisa de doutorado sobre homicídios no Espírito Santo e a Universidade Vila Velha – UVV – oferece um programa de Mestrado em Segurança Pública. Esse casamento era pedra cantada e foi consagrado no início desse ano. A festa ainda não aconteceu por causa da pandemia.
Não posso dizer que houve um estranhamento muito grande com o novo trabalho. O ambiente acadêmico não me é estranho. A UVV é muito acolhedora e eu já conhecia boa parte dos novos colegas de trabalho, velhos colegas de pesquisa. Alguns deles, inclusive, tiveram um papel importante no meu doutorado. Outros já haviam me esbarrado em outras atividades. Não somos muitos a pesquisar segurança pública, crime e violência no Espírito Santo.
O novo ambiente urbano, esse sim, me causou certo impacto. Terras planas; ver o mar à minha janela; as belas paisagens vislumbradas da Terceira Ponte. Encantador é ver o Convento da Penha quando volto da capital. Esse deslumbre não me torna menos cachoeirense. Ao contrário, me sinto cada vez mais capixaba. E quanto mais capixaba, mais cachoeirense fico.
Outro dia, num dos novos bares que ando conhecendo à medida que as restrições da pandemia vão se reduzindo, caiu um violão na minha mão. Para não facilitar demais, toquei “Que Loucura”. E vi que sou meio Sérgio Sampaio. Cachoeirense sim.
Mas capixaba também.