É fato que as inundações no Rio Grande do Sul vão pautar, de forma incisiva, o debate eleitoral deste ano, colocando à mostra o nível de entendimento dos candidatos a prefeito e vereadores sobre como gerir cidades em tempos de mudanças climáticas extremas, bem como soluções estruturantes que evitem ou amenizem desastres naturais, desde a recomposição de matas e áreas degradadas a obras de drenagem urbana, realocação de pessoas que vivem em área de risco, valorização de equipes técnicas que evite o desmonte de setores de pesquisa ambiental.
O debate público, principalmente, nas redes sociais, mostrou a insatisfação dos brasileiros com relação a governos e seus representantes, principalmente dos gaúchos, com relação à falta de prevenção e ao despreparo do poder público diante da crise no sul do país. 34% das interações mostrou raiva e busca pelos culpados pela tragédia; uma raiva motivada por governos ignorarem alertas de riscos anteriores, com poucas e/ou demoradas respostas; direcionamento insuficiente de verbas para a emergência climática e a flexibilização de regras ambientais.
A mídia, por vezes desencontrada, deu espaço às redes sociais, que assumiram papel importante, de fazer a ponte entre as vítimas e os voluntários; além de mobilizar doações vindas do país inteiro e do exterior, tornando-se uma grande rede apoio entre os brasileiros.
O clima no país não é mais o mesmo. A população, muitas vezes alheia às alterações nas leis ambientais, é a mesma que sofre as piores consequências das decisões políticas, contrariando as técnicas.
Passados os momentos iniciais de tristeza e dor, ficam os traumas para quem perde casa, emprego, familiares e amigos nos desastres e os questionamentos de como recomeçar a vida depois do caos: 85,5% das cidades gaúchas foram afetadas; 165 mil pessoas temporariamente desalojadas; mais de 67 mil desabrigadas, sem ter para onde ir. Como proteger essas famílias se boa parte delas mora em áreas alagáveis e de alto risco? Como reconstruir cidades inteiras, respeitar o Código Florestal e reduzir desmatamento sem ações políticas efetivas para as mudanças climáticas?
Os brasileiros já entenderam que, ainda que a crise esteja no Estado vizinho, todo o país é afetado na economia, na política e na vida das pessoas, quando começam a faltar nas prateleiras o arroz, o feijão, os derivados do milho, a carne bovina, entre outros. Não dá para saber os efeitos dessa crise a longo prazo, sabemos somente que exigirá mais orçamento da União para prevenção de desastres naturais nos municípios e mais recursos urgentes para a reconstrução das cidades gaúchas.
A gestões municipais terão que dar a partida nos planos de prevenção e os futuros gestores deverão estar cientes do que poderão enfrentar nos próximos anos, se não tratarem com responsabilidade os temas ambientais em seus planos de governo e propostas.
Até então o tema ‘meio ambiente’, que sempre mereceu menos atenção dos candidatos, talvez exija maior estudo e preparo destes para os debates com a imprensa e a população. Durante a pré-campanha já é possível notar quem se debruçou sobre a pauta ambiental, não como um elemento para vencer uma eleição, mas como compromisso e reconhecimento da importância do tema, que depois dessa semana, não poderá ser mais ignorado ou servir como moeda de troca. Vamos ter, nós todos, que encontrar soluções.