Por Guilherme Nascimento
As eleições municipais de 2024 em Marataízes revelaram uma realidade preocupante: a falta de diversidade entre os eleitos para a Câmara Municipal. Em um município onde a pluralidade da população é evidente, o resultado das urnas trouxe uma câmara composta exclusivamente por homens brancos, sem a presença de mulheres, negros, jovens ou pessoas LGBTQIAP+. Essa ausência de representatividade não é apenas desanimadora, mas também um reflexo de um cenário político que ainda exclui importantes setores da sociedade.
A questão da representatividade vai muito além de números. É sobre dar voz a grupos que, historicamente, têm sido marginalizados dos espaços de poder e decisão. A falta de mulheres e negros na política é um problema antigo. Dados do IBGE mostram que as mulheres representam mais da metade da população brasileira, e que mais de 56% dos brasileiros se identificam como negros ou pardos. No entanto, essas proporções não se refletem nas câmaras municipais do país, onde apenas 16% das cadeiras são ocupadas por mulheres, e apenas 5% dos vereadores eleitos são negros.
Essa realidade é ainda mais grave quando pensamos na comunidade LGBTQIAP+, cujos representantes enfrentam barreiras de preconceito, falta de financiamento de campanha e discriminação estrutural. Estudos realizados pelo Instituto Marielle Franco indicam que, mesmo com esforços de inclusão, as candidaturas de pessoas LGBTQIAP+ e de mulheres negras continuam subfinanciadas e invisibilizadas no cenário político nacional.
Em Marataízes, o impacto dessas eleições sem diversidade é sentido profundamente. Sem vozes femininas, negras ou LGBTQIAP+ na Câmara, questões fundamentais como políticas públicas de gênero, igualdade racial, e inclusão de minorias ficam, mais uma vez, à margem. A ausência de representatividade impede que essas demandas sejam discutidas e atendidas de maneira eficaz. A Câmara, que deveria refletir a diversidade da sociedade, se torna, então, um espaço distante da realidade de muitos cidadãos.
Apesar disso, quero parabenizar os vereadores eleitos e reeleitos. O esforço de cada um nas urnas é digno de reconhecimento, e agora eles têm uma grande responsabilidade: representar todos os cidadãos de Marataízes, inclusive aqueles que não tiveram suas vozes diretamente representadas nas urnas. Desejo boa sorte aos eleitos e, como presidente do PSOL Marataízes e da Federação PSOL REDE, reitero o compromisso de acompanhar de perto os trabalhos dessa nova legislatura. Estaremos vigilantes, cobrando que políticas inclusivas sejam implementadas e que a pluralidade da nossa cidade seja, de alguma forma, contemplada nas decisões políticas.
Quero também parabenizar os candidatos da nossa Federação PSOL REDE pelo empenho e dedicação durante a campanha. Apesar das dificuldades e do resultado final, todos fizeram um excelente trabalho em defender as pautas da inclusão e da justiça social. Em especial, agradeço ao Luiz Marvila, presidente da REDE em Marataízes, pelo seu comprometimento e liderança ao longo do processo eleitoral.
A falta de diversidade não é uma exclusividade de Marataízes. No cenário nacional, enfrentamos desafios semelhantes. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a política brasileira ainda é marcada pela predominância de homens brancos, e há uma clara desconexão entre a população e seus representantes eleitos. Países como Suécia e Noruega, que adotaram ações afirmativas, como cotas de gênero e raça, conseguiram resultados muito mais equilibrados em termos de representatividade. Esses exemplos mostram que é possível mudar essa realidade, desde que haja vontade política e esforços estruturados para promover a diversidade.
Além de ser um reflexo da sociedade, a diversidade na política traz benefícios diretos para a qualidade da democracia. Quando diferentes vozes estão presentes, as discussões se tornam mais ricas, as políticas públicas são mais inclusivas e a população se sente mais representada. A ausência dessas vozes impede que temas cruciais, como políticas de saúde para mulheres e LGBTQIAP+, educação inclusiva, e combate ao racismo, sejam adequadamente tratados.
O caminho para uma verdadeira representatividade passa por educação política e pelo engajamento da sociedade civil. Em Marataízes, temos que intensificar a conscientização do eleitorado sobre a importância de eleger representantes que reflitam a pluralidade da nossa cidade. A luta por uma Câmara que espelhe a diversidade do povo marataizense deve continuar, e a Federação PSOL REDE está comprometida em fortalecer suas bases e formar novas lideranças que possam representar todos os setores da nossa sociedade.
Estamos prontos para fortalecer nossas legendas e continuar a construir uma política inclusiva e plural, que atenda às demandas de mulheres, negros, jovens e LGBTQIAP+ no futuro. Sabemos que o desafio é grande, mas também sabemos que a mudança começa com o trabalho de base, com o diálogo e com a persistência.
Parabéns aos vereadores eleitos. Que os próximos quatro anos sejam marcados pelo diálogo e pelo compromisso com toda a população. Seguiremos acompanhando de perto e trabalhando por uma Marataízes mais justa e representativa. Nossa missão é garantir que, nas próximas eleições, a diversidade não seja a exceção, mas a regra.
Guilherme Nascimento
Presidente do PSOL Marataízes e da Federação PSOL REDE