*por Ademar Batista Pereira
Nos últimos 50 anos, testemunhamos um período de facilidades sem precedentes na história humana. Nunca antes foi tão simples obter alimentos, viajar, se proteger das intempéries climáticas ou até mesmo aliviar a dor física. No entanto, paradoxalmente, nos encontramos em uma era onde as reclamações parecem ser uma constante. Podemos iniciar nossa reflexão com uma análise filosófica, citando ditados como “tempos difíceis criam homens fortes” e “tempos fáceis criam homens fracos”. No entanto, o que realmente está impactando nossa sociedade é uma tendência humana enraizada: a chamada “lei do menor esforço”.
Um olhar para a história e as obras dos principais filósofos da antiguidade revela que o trabalho físico não era considerado uma prioridade. Para eles, o desenvolvimento do pensamento e da reflexão era muito mais significativo do que qualquer esforço físico, muitas vezes relegado aos escravos. Ao longo da história antiga, essa mentalidade prevaleceu. No entanto, à medida que a sociedade progredia em busca de uma melhor qualidade de vida, esse paradigma começou a mudar rapidamente, em um curto espaço de tempo na escala da história humana, que abarca milhões de anos.
Há aspectos da vida que simplesmente não podem ser abordados com uma mentalidade de busca pelo caminho mais fácil. A saúde, a educação dos jovens e os relacionamentos são alguns exemplos. A saúde não é algo que podemos manter apenas com remédios e tratamentos rápidos; requer hábitos saudáveis e cuidados contínuos ao longo da vida. Da mesma forma, a educação dos jovens exige um investimento significativo de tempo e esforço, não pode ser terceirizada. Nos relacionamentos, conflitos e desacordos são inerentes, e resolvê-los demanda trabalho e comprometimento.
Hoje, enfrentamos uma crise decorrente do uso indiscriminado da “lei do menor esforço” nas atividades mais importantes e fundamentais da vida humana. Muitas vezes, recorremos ao caminho mais fácil para lidar com nossos filhos, entregando-lhes dispositivos eletrônicos para mantê-los ocupados, em vez de nos envolvermos ativamente em sua criação. Na saúde, optamos pelo que é conveniente em vez do que é saudável, negligenciando hábitos alimentares adequados e atividades físicas regulares. E nos relacionamentos, evitamos o básico para resolver conflitos e construir conexões significativas.
Diante desse cenário, é hora de repensarmos nossas escolhas e comportamentos. Que tal deixar o carro em casa mais vezes e optar por atividades ao ar livre? Que tal reservar tempo para conversas significativas com nossos parceiros e filhos, tanto em grupo quanto individualmente? É fundamental que reflitamos sobre até que ponto estamos sendo guiados automaticamente pela “lei do menor esforço” e como isso está impactando nossas vidas de maneira negativa. Fica a reflexão.
*Ademar Batista Pereira é membro do Conselho Fiscal da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep)