*por Marco Aurélio Borges
Segunda feira dessas, vindo de casa para casa (ainda fico confuso se minha casa é em Cachoeiro ou Vila Velha), resolvi passar pelo litoral fugindo das necessárias porém inconvenientes obras de duplicação da BR 101.
O trecho da Rodovia entre Anchieta e Guarapari é muito bonito, com uma boa pista e belas paisagens. E um contraste nos trechos de improvisados desvios onde o acostamento da estrada desabou, em alguns casos alcançando até mesmo a pista.
Não sei como faz estrada. Não conheço muito a burocracia das desapropriações. Na minha simplicidade intelectual sobre o assunto, fico um tanto inconformado que com tanto espaço tenham feito a estrada tão dentro do mar. Uns metrozinhos para o lado e ainda teríamos acostamento, pista e paisagem. Confesso que sou o tipo de pessoa que só conserta a geladeira quando ela não gela mais. Mas faz alguns anos que as beiras da pista a que me refiro desabaram. E até hoje não consertaram. Será que são como eu e estão esperando cair a estrada toda?
Lá em Cachoeiro tem muita construção dentro do rio. Tem uma beira rio que embora conte com uma praça as vezes bem aproveitada, roubou margem do Itapemirim que não raro pega de volta na enchente. Ano passado a vingança veio forte acabando com o teatro e invadindo até o quintal dos Braga. Fora o Centro Operário onde eu e muitos atores da cidade deram duro tirando lama. Cá pela minha nova terra, perto de casa, tem um córrego que só enche na enchente e me rende muito mosquito para apoquentar. Dizem os nativos que tudo por aqui tem muito aterro. E quando chove a coisa não fica fácil. Quase precisa de barco para chegar na universidade que é ainda aqui pertinho de casa.
Invade o mar, invade o leito do rio, aterra. Já vi advertência em documento de Cachoeiro datado do século XIX. Cientista avisa todo dia. Até o Sá e o Guarabyra avisaram do medo que algum dia o mar também vire sertão se continuamos virando sertão em mar. Os decididores do dinheiro público insistem em fazer as coisas onde tudo pode desabar. Enquanto isso o Teatro Rubem Braga não funciona mais, enquanto a bela estrada litorânea acumula anos de acostamentos erodidos.
Talvez exista nisso tudo alguma lógica perversa. Mas minha mente simplista só vê o óbvio.
Se é pra desabar, pra que que faz?