Não se desespere, em quatro dias tudo passará. Essa agonia de primeiro e segundo turnos, essa angústia de não saber se vai perder ou ganhar, a vergonha de termos um larápio disputando a Presidência da República e essa dúvida pela sorte do Brasil. Sim, eles passarão, como diriam Mario Quintana e o grande Nelson Ned, se entre nós ainda estivessem.
Mesmo que tenhamos mais 20 dias de campanha para um segundo turno, passará. Mesmo que tenhamos que aguentar mais um pouco os atos ordinários do Supremo, passará. Mesmo que Lula vença, passará. Mesmo que Bolsonaro vire o jogo e a mesa, passará. Lá na frente, tudo ficará tatuado em nossa lembrança e nossa culpa. Tudo distante.
Algumas lições, todavia, devemos manter vivas após as eleições, independentemente do resultado das mesmas. Passou da hora de termos uma reforma política decente nesse país. Não dá mais para ministro do STF ter o controle das eleições. Nosso Supremo é um tribunal indicado por políticos. Sendo assim, vossas excelências são agentes públicos que devem esse favor aos seus senhorios. De lado a lado.
Criado para ser um tribunal estritamente constitucional, o Supremo vem ano a ano aumentando seus tentáculos. Abre processo, investiga e julga, mesmo que o réu não tenha o tal foro especial. Mete o bedelho em atos restritos ao Executivo e ao Legislativo. Sequestram a nossa liberdade de opinião e expressão. Para completar o pacote, também está interferindo no voto das pessoas, ou seja, naquilo que temos de mais sagrado numa democracia. E fazem isso propagandeando contra o governo. Afinal, foi isso que o Barroso fez em Harvard (EUA).
A magistratura sempre foi uma categoria respeitada nesse país. Um juiz de carreira (entre os 11 do STF, só há dois) tinha uma aura de decência que inspirava os cidadãos país afora. O posto de juiz era quase que sagrado e exigia sua contrapartida com atos e atitudes. Afinal, os juízes mudaram? Claro que não, mas as seguidas lambanças do olimpo estão respingando no andar de baixo, que já dá sinais de insatisfação.
A doença que vem de Brasília se espalha pelo país. Esse negócio de proibir o presidente de se mostrar ao seu próprio público, que foi às ruas apoiá-lo de verde e amarelo e bandeira do Brasil na mão, atendendo ao seu chamado, é o fim da picada. Se fosse uma medida tomada pelos generais à época da ditadura, Caetano e Chico já teriam feito umas 10 canções de protesto e Geraldo Vandré lideraria a sonhada revolução da esquerda cantando “quase todos perdidos de toga na mão, caminhando e cantando e seguindo…”.
Mas foi pouco. Agora resolveram brincar de casinha e pique-esconde. Proibiram o presidente de falar aos eleitores de onde reside, mas da quitinete do vizinho pode. Se fosse eu o imbrochável, pedia emprestada aquela humilde residência do Teló. Ora, onde vamos parar? Hoje a gente discute o “nós contra eles”, o “bem contra o mal”, enquanto a serpente cresce e a nossa liberdade vai se esvaindo. As águas que sobem sempre alcançam as duas margens do rio. Outrora poderá afogar a todos.
Até!!
Poeminha do Contra (Mario Quintana)
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!