Por Guilherme Nascimento
No extremo norte do Espírito Santo, há uma vila onde a areia avança sobre a memória e o forró ecoa como patrimônio afetivo. Itaúnas, distrito de Conceição da Barra, é um dos destinos turísticos mais simbólicos do litoral brasileiro. Mas, para além das dunas e da música, é também ponto de partida para uma travessia sensível: a viagem até Costa Dourada, na Bahia. E foi ali, entre uma caminhada e outra, que uma pousada se destacou não apenas como hospedagem, mas como parte da narrativa.
A Pousada KA 347 está situada no centro da vila, mas parece suspensa num outro tempo. Um espaço que oferece silêncio e sofisticação, charme e simplicidade. A estrutura é surpreendente para os padrões da região: apartamentos amplos, de até 70 metros quadrados, equipados com cama king size, enxoval de alta qualidade, ar-condicionado, som ambiente via bluetooth, TV por assinatura e uma decoração cuidadosamente escolhida para não romper com a estética do entorno. Em dois dos quartos, piscinas privativas com hidromassagem acrescentam um toque de intimidade e conforto.
O café da manhã é servido até o meio-dia. Um detalhe aparentemente banal, mas que se revela um manifesto contra a pressa. Frutas frescas, bolos artesanais, queijos regionais e importados e, não raro, espumante na taça. O hóspede não é apressado — ele é respeitado. A cozinha gourmet coletiva, à disposição de quem prefere preparar suas próprias receitas, reforça o caráter de pertencimento. Não é apenas estar hospedado: é viver o lugar como extensão de si.

Integrante da Associação Roteiros de Charme, a pousada mantém um padrão de excelência que não se impõe com arrogância, mas se manifesta nos detalhes. A recepção acolhedora, a limpeza impecável e o cuidado com cada experiência mostram que luxo, aqui, é sinônimo de bem-estar com identidade.
O entorno da pousada é um convite à imersão. Itaúnas tem suas raízes plantadas na música. O forró pé-de-serra não é atração turística — é linguagem cotidiana. Nos bares da vila, especialmente no famoso Forró da Padaria, o que se ouve não são trilhas comerciais, mas as batidas da zabumba, os acordes da sanfona e o tilintar do triângulo. Em 2021, o forró foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, e Itaúnas segue como um dos seus berços mais férteis.
As dunas que cercam a região guardam uma história curiosa. Entre as décadas de 1940 e 1970, o avanço das areias soterraram a antiga vila. Casas, igrejas, caminhos: tudo foi lentamente engolido. Os moradores, no entanto, resistiram. Cruzaram o rio e reconstruíram a comunidade onde ela permanece até hoje. É possível caminhar sobre o passado e, ainda assim, sentir o futuro sob os pés.
Foi justamente de Itaúnas que parti rumo à divisa com a Bahia, onde a praia de Costa Dourada se apresenta como um dos segredos mais bem guardados do litoral brasileiro. O nome não engana: falésias em tons de vermelho e ocre se erguem diante do mar. A areia fina e dourada dá nome e identidade ao lugar. Ainda com infraestrutura tímida, a região preserva uma atmosfera quase intocada. Sem grandes empreendimentos, a presença de moradores locais, pescadores e barracas familiares cria um ambiente de acolhimento natural.
Essa travessia entre Itaúnas e Costa Dourada é mais do que geográfica. É uma jornada entre estados, entre culturas vizinhas, entre memórias e recomeços. A estrada que conecta os dois pontos é ladeada por plantações de eucalipto, símbolo da economia da região, mas também de um modelo de exploração que convive com o turismo e com a preservação ambiental.
Retornar à pousada depois desse percurso é como voltar ao útero do conforto. A KA 347 não é um lugar de passagem. É ponto de apoio e de encontro. É onde se recarrega o corpo e se reorganiza o olhar. E é nesse sentido que ela cumpre um papel essencial para quem escolhe esse roteiro: o de garantir não só descanso, mas também profundidade.
Ao viajar por esse território, o que se encontra não é apenas paisagem. É uma combinação de história, sabor, música, resistência e bem receber. A Pousada KA 347 traduz, em sua proposta, o que Itaúnas e Costa Dourada representam: destinos que não querem ser apenas visitados — querem ser compreendidos.









