Nos últimos meses vem sendo realizado o projeto Caxambu na Escola do Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, visando transmitir aos estudantes das turmas da EMEB Monte Alegre os conhecimentos sobre o caxambu – manifestação de origem afro-brasileira que é embalada por versos cantados e batidas de tambores – e a história do grupo de caxambu Santa Cruz, certificado pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil.
As responsáveis por repassar todos esses ensinamentos são as mestras de caxambu da comunidade: Maria Laurinda Adão, Adevalmira Adão Felipe, Geralda Nogueira Calixto e Neuza Gomes Ventura. Permeada por histórias e curiosidades, as conversas com as crianças sempre começaram e terminaram ao som de palmas e de cantos seculares.
Nesta segunda-feira (28) ocorreu a conclusão do projeto, na própria comunidade. Os “alunos-caxambuzeirinhos” de cada turma da escola prepararam apresentações a partir dos conteúdos que foram trabalhados pelas mestras ao longo de todas as oficinas. Foram exibições de danças, músicas e esquetes alusivos ao caxambu e ao mês da Consciência Negra, tudo apresentado especialmente para as mestras, os pais e os professores.
“Ao levar os conhecimentos tradicionais e seus portadores para o espaço da escola, valorizamos o que temos de mais precioso em nossa cultura: a identidade. Sem identidade não existe vida em sua plenitude”, comenta Genildo Coelho Hautequestt Filho, coordenador dos projetos da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense – entidade sem fins lucrativos, que também é idealizadora e apoiadora desta iniciativa, assim como de inúmeras outras ao longo de mais de 20 anos de existência.
Todas as oficinas e esta apresentação final também tiveram a participação da contadora de histórias e psicopedagoga Maria Elvira Tavares Costa, que afirma: “Em tristes tempos de negação da Cultura e perseguição aos cultos afro-brasileiros, o retorno do Caxambu à Escola foi resgate de alegria e espontaneidade. Mesmo as crianças que nunca haviam assistido a uma Roda, terminaram por reproduzir os jongos e batucar, com toda cadência, nas cadeiras, mesas e no chão. O projeto trouxe o chamado da Raiz – que, sem raiz, a árvore não fica de pé”.
As mestras pontuam que os conteúdos foram realmente assimilados pelas crianças. Para Geralda Nogueira, “elas passaram a conhecer melhor a história da formação do quilombo, que é a história das suas próprias famílias”.
O projeto Caxambu na Escola do Quilombo tem o apoio financeiro do Funcultura, da Secretaria de Estado da Cultura – Secult, por meio dos editais 8/2021 (Seleção de projetos e concessão de prêmio para valorização dos patrimônios imateriais reconhecidos e registrados no Estado do Espírito Santo).