E ela se foi há mais de vinte anos. Eu morria de medo dela passar no vestibular da UFES e ter que morar sozinha em Vitória. Aí ela chega feliz demais por ter passado no vestibular. Meu coração apertou. Caracas, pensei, chegou a hora.
Depois veio o pior, aqueles olhos pretos brilhantes estavam aprontando alguma coisa. Coração de mãe não se engana, mas coração de pai é desconfiado por natureza.
Pai, ela disse…Ganhei uma bolsa na PUC. Caracas, (de novo), pensei. Onde? perguntei, torcendo pelo menos pra ser em São Paulo aonde tínhamos parentes. Em Porto Alegre, pai, uma das melhores universidades do Brasil.
Desde essa conversa já se passaram mais que vinte anos.Várias vezes voltamos a ir e vir nesse período. Ela construiu sua vida e sua família por lá. Hoje chega de férias, mas eu ainda não me acostumei.
A única rotina a que me permito é preparar o quarto que foi dela e hoje é um tipo de escritório, onde ponho um lençol do Flamengo em um sofá cama. O lençol é presente antigo para o qual minha esposa torce o nariz, pois atualmente gosta mais do Inter que do rubro negro.
Agora é só esperar pra ver mais uma vez aqueles olhos cada vez mais pretos, adornados pelo sorriso mais honesto e expressivo que conheço, herança da mãe, com certeza.
Seja mais uma vez bem-vinda, Capiuxa!









