Manhã chuvosa no domingo do Natal de 2022 fui caminhar por Cachoeiro de Itapemirim. Descendo pela solidão matinal natalina da rua Jerônimo Ribeiro, no bairro Amarelo, passei por uma mulher com guarda-chuva que desabafou seu mundo descontente:
– Lojas fechadas não têm nada para comprar e as ruas molhadas estão sujas e fedidas. Vou para casa deitar e colocar as pernas para cima que ganho mais.
Só nós dois na rua, falei baixo o suficiente para ela escutar:
– Vai descansar sim, viver dá trabalho e cansa.
Vez em quando me pego matutando lembrando daquela mulher. A vida sem diálogo é incompreendida e descontente. Quando caminho nunca vou só. A vida experiente e companheira vai abraçada proseando e matutando comigo. Escuto sua voz suave e conselheira.
Sem perguntar quem foi seu professor, me fala que as guerras e os conflitos acontecem por não haver diálogo. – O que é diálogo, perguntei. – É você com atenção ouvir, ruminar as palavras, procurar entender a cultura e a necessidade de quem está falando e se colocar no seu lugar, respondeu.
Quando estamos descontentes e infelizes, nossas dores impedem compreender a necessidade do outro. A dolorida mulher descontente não compreendeu e aceitou o justo cansaço do comércio natalino dos lojistas.
Ferida, não soube dialogar com a vida e despejou suas dores desabafando contra ruas molhadas, sujas, fedidas e lojas fechadas. Necessitados, olhamos nossos umbigos machucados e ficamos agressivos. Não dialogamos e perdemos a educada compreensão.
Tive compaixão daquela mulher.