Em 1979, com 17 anos, falei para os colegas do Colégio Brasil América, RJ: – Mesmo aposentado do futebol profissional, vou ao Maracanã ver o Pelé jogar pelo Flamengo contra o Atlético Mineiro. O colega Oswaldo Albuquerque, flamenguista, carioca, que tem parentes em Cachoeiro, a educadora e amiga Kaká, Cristina Albuquerque, foi comigo.
Bem próximos da entrada, congestionados e espremidos pelos quase 200 mil torcedores, eu, num ato de sanidade, observado pelos bravos policiais cariocas e o assustado amigo Oswaldo, subi com habilidade treinada por cima do portão. Pendurado, virei e estendi o braço, gritando para Oswaldo: – Me dá a sua mão…
Incrédulo, com olhos arregalados e num ato insano, estendeu a mão e foi sugado. Entrou no Maracanã sem pagar, observado pela temida guarda policial. Apressado, subi a rampa que dá acesso ao campo, falando: – Estou indo para torcida do Atlético. Ainda incrédulo e mesmo sendo flamenguista ele falou: – Vou com você.
Fomos. Sentei na arquibancada pilhado e feliz nessa noite histórica, para ver o Rei do futebol e torcer culturalmente contra o Flamengo. Zico, vestido com a camisa 9 e Ele, majestoso, com a 10. A bola rolou e Atlético 1×0. Depois um pênalti a favor do Flamengo e o coro inflamado da torcida gritando Pelé. Zico, humildemente, reconhecendo seu lugar, entregou a bola a sua majestade.
Pelé, prudente, com a costumeira sabedoria, já possuidor do reinado, também reconhecendo seu posto de Rei, devolveu a bola para Zico que bateu o pênalti e empatou o jogo. Ele jogou só o primeiro tempo. Foi o suficiente para aquele jovem capixaba aventureiro, de Cachoeiro de Itapemirim, enriquecer o currículo e escrever hoje: – Vocês não, mas eu vi Pelé jogar no Maracanã, sem pagar!
No segundo tempo, o ponta esquerda Júlio César, apelidado de Uri Geller, distribuiu jogadas, entortando os seus marcadores e municiando Zico, que balançou a rede mais duas vezes. Luisinho e Cláudio Adão completaram o placar de 5×1 favorável ao Flamengo. Acho que o amigo Oswaldo não conseguiu ver o jogo e nem Pelé. Feliz, saí do Maracanã correndo e dei um soco no ar, comemorando o gol de placa.









