Por curvas e retas urbanas, ralo o peito carregando dores partidas sem chegadas. Sorridente, camuflado e sem graça, passo pela multidão vendada, surda, insensível e barulhenta. Sem deixar os sonhos envelhecerem, contemplo à lua nova, recém fecundada, cumprindo o seu ciclo, aguardando o sol raiar.
Essa missão de viver me eleva amparado ao céu, e rasteja meu corpo ferido e ensanguentado pelo chão. Distante, passando por uma estrada rural, cavalgo galopando. Montado, sinto o cheiro do café vespertino e familiar. Freio a pressa, tiro o chapéu, peço licença e abro a porteira. Paro em frente à varanda, no lar rural do aconchego familiar. Mesa posta e preparada para escutar histórias guardadas no celeiro do coração.
– Boa tarde, cumprimento. Podem me dar um copo d’água, por favor?
– Boa tarde, responderam.
– Apeia do cavalo e toma café também, acolhedor, falou o senhor.
– Muito obrigado, agradeci. Apeei e deixei o cavalo à sombra do pé de jamelão.
– Só água basta, falei. Sentado, tomei água, café com leite, comi pamonha, biscoito de polvilho e bolo de aipim.
Montei no castanho e despedi agradecido. Silencioso, mastigo minha vida, ruminando os dias aprendidos. De volta, na estrada, saudoso do lar, parei e deitei abraçado com os meus.