Nas telas brancas, infantis e juvenis, pinto as lembranças saudosas que povoam minhas memórias. Sentimentos e recordações, preservados, passeiam descalços comigo. Viagem com olhos fechados por conversas caladas, sentidas e colhidas no florido jardim do coração. Juntos, também, espinhos arteiros, com gratidão, passeiam apontando a beleza das cores. Dores feridas felizes, sem perder a pureza infantil dos retratos do tempo. Hoje, no ateliê, as telas pintadas não são mais infantis e juvenis. Pensativo, penduro nas paredes o silêncio, cansado de falar e mentiras ouvir. Os segredos, guardo para mim. Encorajado a mentir, pela verdade, dispenso encontros onde não me vejo e acho. Agradecido, da janela, zombando da vida, pinto telas escritas, enquadradas e coloridas. Feliz, o tempo me olha, sorri e passa por mim orgulhoso.