por Paulo de Tarso Medeiros
Cachoeiro é o município mais importante da região Sul desde quando se emancipou, em 1867, de Itapemirim e herdou todo o território situado da região do Caparaó até o estado do Rio, exceto o litoral e Rio Novo do Sul. E ainda absorveu a região de Rio Pardo, hoje Iúna, que pertencia a Vitória. Fora de Cachoeiro ficaram os hoje municípios de Domingos Martins e Alfredo Chaves.
A freguesia e depois vila de Cachoeiro evoluiu para se tornar o principal centro da economia estadual graças ao crescimento das lavouras de café, exploradas por fazendeiros fluminenses e mineiros que vieram para nossa região montanhosa em busca de terras mais férteis, trazendo a tecnologia e seus escravos. A vila de Cachoeiro tornou-se o centro comercial da região, drenando toda a produção que era então enviada à Barra de Itapemirim para ser exportada. E tendo o rio Itapemirim como via de entrada de toda a importação destinada à região.
O crescimento da produção de café levou à criação de ampla malha ferroviária que nos conectou primeiro com Castelo e Rive (Alegre), a Estrada de Ferro Caravelas, inaugurada em 1887. Os trilhos da Leopoldina Railway nos ligaram ao Rio de Janeiro em 1903, desviando para lá a produção da região e facilitando o contato de Cachoeiro com a capital de república. Com a inauguração da ponte de ferro, em 1910, completou-se a Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, esforço governamental para ligar Cachoeiro a Vitória, na tentativa de desviar para o porto da capital a produção da região Sul, ferrovia então já sob o controle da Leopoldina. Que posteriormente estendeu a linha da Caravelas, que absorvera, até Espera Feliz em Minas, fazendo conexão com a linha de Manhuaçu. Em 1920 inaugurou-se o primeiro trecho da Estrada de Ferro Itapemirim, até Paineiras. Cachoeiro tornou-se importante entroncamento ferroviário.
A partir do final do século XIX, as diversas freguesias do Sul foram se transformando em vilas, municípios autônomos, embora Cachoeiro continuasse como o maior centro econômico da região. São Pedro de Itabapoana (hoje Mimoso do Sul) foi a primeira freguesia a se emancipar. Criada em 1887, a vila foi instalada em 20.11.1890. Nesse mesmo ano foram criadas as vilas de Alegre, do hoje Muniz Freire e de Rio Pardo (Iúna). Já no século XX tivemos as emancipações de Muqui (1912) e de Castelo (que incluía Conceição do Castelo) em 1929. De se notar que, naquele tempo, a grande maioria da população vivia na área rural. Mais recentemente emanciparam-se os distritos de Marapé (hoje Atílio Vivacqua), isto em 1964, e Vargem Alta (incluindo Jaciguá), em 1989. Esses novos municípios deram origem aos demais que compõem o Sul do estado.
Em 1890, o município de Cachoeiro tinha, de longe, a maior população do estado, 37.649 habitantes, na sua maior parte vivendo na área rural do que se tornaria, com o tempo, outros municípios. Essa primazia se manteve no Censo de 1900, com população de 19.692 habitantes, a despeito da emancipação de distritos importantes. Já em 1920 ocupava o segundo lugar, com 46.102 habitantes, cerca de 1.000 habitantes a menos do que no município de Alegre. Vitória tinha 21.866. Esse Censo registrou a população dividida por distrito. Considerando o distrito sede do município, que inclui áreas rurais próximas, Vitória tinha 18.517, Cachoeiro, 13.713 e Alegre, 10.389 habitantes. No Censo seguinte, de 1940, Cachoeiro era o município mais populoso, com 72.834 habitantes, seguido de Colatina, com 66.263, Alegre com 62.378. O hoje Mimoso do Sul tinha 49.813 e Vitória, 45.212. Em 1950, Cachoeiro se destacava com a segunda maior população, 82 mil habitantes. Vitória tinha 52 mil. Colatina se tornara o maior município, com cerca de 100 mil habitantes, função de produção de café e de sua extensa área, ainda não desmembrada.
O governo Jerônimo Monteiro (1908-1912) criou um grande polo industrial no Sul, com a instalação da Usina Paineiras, da Serraria Industrial, da Fábrica de Cimento (que só foi completada e iniciou produção anos depois) e da fábrica de tecidos. Para suprir de energia essas indústrias foi construída a usina hidroelétrica do rio Fruteiras. Outras indústrias não ficaram totalmente prontas por falta de recursos do estado, como a fábrica de papel e a de óleos. Eram empresas de porte que se juntaram às indústrias que evoluíram localmente, agregando à pujança agrícola, comercial e de serviços de Cachoeiro um forte setor industrial.
Como reflexo de sua força econômica, Cachoeiro dominou a política estadual entre 1908 e 1920, com a eleição de Jerônimo Monteiro ao governo estadual, que foi sucedido pelo candidato de sua escolha, Marcondes Alves de Souza, e por seu irmão Bernardino de Souza Monteiro.
A importância econômica, a ligação de nossa elite com o Rio de Janeiro propiciada pela ferrovia, o poder político exercido e capacidade de empreender, de que são exemplos a construção em 1887 da ponte ligando as duas margens do rio, ou a iluminação pública com energia elétrica, em 1903, a primeira cidade do estado a gozar do melhoramento, e uma das primeiras do Brasil, criaram um sentimento de superioridade na mente dos cachoeirenses, mesmo em relação à capital. Essa a origem do nosso bairrismo.
Cachoeiro era importante não somente a nível estadual, mas também relativamente se destacava a nível do País. Por muitas décadas Cachoeiro prosperou. Mas esse enorme progresso não encontrou sustentação para se manter nos tempos mais recentes.
A Perda da Supremacia Econômica
O café, com o tempo, deixou de representar a grande riqueza da região, com o declínio da produção. Nossa produção de café, se importante localmente, não se destacava em termos nacionais. E perdeu ainda mais importância relativa com a expansão posterior da produção, principalmente nos estados de São Paulo e Paraná.
O preço do café, que era majoritariamente exportado, flutuava muito em função de variações no consumo mundial e, principalmente, nos níveis da produção, que o Brasil dominava. O Departamento Nacional do Café e depois o IBC (Instituto Brasileiro do café) recolhia uma contribuição basicamente para fins de compra de café para estocagem a fim de adequar a oferta à demanda, visando dar sustentação aos preços internacionais. Essa contribuição era um valor fixo por saca, o que penalizava relativamente mais nossa produção que, devido à qualidade, obtinha preços menores. Numa tentativa de reduzir a produção nacional de café e os estoques, que superavam de muito a produção anual, foi lançado em 1962 o programa de erradicação de cafeeiros improdutivos, com o pagamento aos cafeicultores por pé arrancado, que teve grande aceitação no nosso estado. Ademais da perda de produção, gerou o problema do desemprego dos colonos que viviam nas propriedades, que migraram para as cidades. Este foi o capítulo final da importância do café no Sul do estado, que hoje tem um papel quase simbólico na economia da região, embora mais recentemente tenha se tornado importante em alguns municípios. E voltou a ter maior importância no Norte do estado, basicamente com a produção de café do tipo conilon.
A fábrica de cimento, a primeira do ramo no Brasil quando de sua criação, operou de forma intermitente até a década dos anos 30, quando passou por novo arrendamento e é o único empreendimento que evoluiu, com a transferência posterior da fábrica no lado Norte do rio para junto das jazidas em Monte Líbano. A Usina Paineiras continua em atividade, mas não cresceu. A Serraria Industrial deixou de funcionar com o esgotamento das florestas e a fábrica de tecidos, que tinha quando de sua criação 161 teares, acabou fechando suas portas, na década dos anos 60. Havia muitas indústrias em Cachoeiro no ramo de olarias, na fabricação de móveis, bebidas, outras serrarias mas esse setor mais antigo desapareceu. Novas indústrias importantes foram criadas, prosperando por algum tempo e desaparecendo, como a fábrica de calçados Itapuã e a fábrica de ônibus da Viação Itapemirim.
Temos um novo e expressivo parque industrial que foi se desenvolvendo mas sem atingir a importância que teve no passado. E tivemos, há pouco mais de 40 anos, o desenvolvimento do setor de processamento de rochas ornamentais, que chegou a nos colocar numa posição de dominância nacional, mas que tem perdido espaço com o desenvolvimento do setor em outras regiões.
Em 2021, a indústria contribuiu com 28,7% do nosso PIB, o que é uma boa participação pois a nivel nacional a indústria contribuiu com 18,9%.
A economia da região Sul continuou a se expandir mas nossa importância relativa, a nível de estado, diminuiu com o crescimento da região de Vitória, a partir da década dos anos 50, crescimento que se acelerou a partir da década de 60 com o maior desenvolvimento dos portos e a implantação de grandes projetos industriais.
Pelo seu relevo, a agricultura nunca foi muito importante no atual município de Cachoeiro, a grande produção do passado, no caso do café, provindo principalmente das regiões de Alegre, Mimoso e de Castelo. Hoje em dia a agricultura representa apenas 1,5% do nosso PIB. A produção mais importante é a de leite, processado pela SELITA.
O setor de serviços (comércio, transporte, setores de saúde e educação e de serviços pessoais) é o mais importante nos dias que correm, e sempre teve importância. Hoje representa 51,1% de nossa economia.
Cachoeiro e o Sul Capixaba na Atualidade
O Sul capixaba, segundo o IBGE, engloba as micro-regiões de Cachoeiro, Alegre e Itapemirim, ao todo 22 municípios.
A situação da economia de Cachoeiro e de parte do Sul tradicional agravou-se nos últimos 12 anos. O indicador que melhor expressa essa condição negativa é a taxa de crescimento da população. Enquanto a população do estado cresceu, entre os últimos dois censos, 6,5%, a população de Cachoeiro diminuiu 2,2%, alcançando a 185.784, no censo de 2022, interrompendo o crescimento ocorrido nas décadas anteriores. A queda no número de habitantes foi recebida com certa surpresa pois o IBGE, em 2017, estimara a população de Cachoeiro em 207 mil habitantes. Num horizonte de 22 anos, enquanto a população do estado cresceu 23,8% a de Cachoeiro aumentou em 6,2%. Municípios tradicionais, como Afonso Cláudio, Alegre, Mimoso do Sul, Muniz Freire e Muqui também perderam população nos últimos doze anos.
Aumento populacional ocorreu em Castelo e Guaçuí e na região turística de montanha, Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante e Vargem Alta, que registraram crescimento, no conjunto, de 9,2% em sua população, alcançando no total 78 mil habitantes. Grande crescimento teve a área do litoral. Marataízes aumentou a sua população em 22,8%, alcançando cerca de 42 mil habitantes. Juntamente com Itapemirim e Presidente Kennedy a população somou, em 2022, 95.369 habitantes, um crescimento de 26,4%. Note-se que o que até há pouco era o município de Itapemirim já tem mais da metade da população de Cachoeiro. Além da qualidade de vida no litoral, pesou sobremaneira o impacto da produção de petróleo do pré-sal, com os decorrentes royalties recebidos.
Cachoeiro é a maior cidade da região Sul. Em população, é a 5° do estado e a 162° do País, mas não chegamos a ter 5% da população estadual. Quase a metade da população de nosso estado (44%), que atingiu a 3.833.712 habitantes em 2022, vive na Serra, Vila Velha, Cariacica e Vitória, os quatro maiores municípios do estado, pela ordem.
O PIB (produto interno bruto) gerado no município de Cachoeiro atingiu a R$ 6,1 bilhões, em 2021. A renda gerada por habitante (renda per-capita) chegou a R$ 28.971,61.
Se a economia de Cachoeiro ainda tem certo destaque, temos o 8° maior PIB do estado, quando analisamos por habitante os resultados decepcionam ainda mais. Nossa renda per-capita é a 26a. no estado (são 78 os municípios) e a 6a. entre os 22 municípios do Sul. O PIB per-capita de Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy está inflado pelo valor da produção de petróleo, produção essa que pertence à petroleiras. Pelas estatísticas, o PIB per-capita de Presidente Kennedy atingiu o despropositado valor de R$ 580.174,00, o quinto maior do País. Com renda per-capita maior do que a de Cachoeiro no Sul, além dos três municípios do litoral, temos Atílio Vivacqua e Castelo, por pequena diferença.
Segundo o Censo de 2022, o salário médio mensal em ocupações formais foi de 2,1 salários mínimos. Um terço da população tinha rendimentos mensais até meio SM, o que mostra o peso da pobreza. O salário médio em Cachoeiro é o 4° maior na sua região e o 12° no estado. E ficamos com o 1.674° lugar no País.
Em termos de desenvolvimento da educação, Cachoeiro não lidera o Sul, seja em termos de taxa de escolarização ou de resultados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Este problema assolou também as maiores cidades do estado, cujos resultados são ainda piores do que os de Cachoeiro. Isto certamente decorre da existência de bolsões de pobreza nas maiores cidades. A pobreza e o baixo nível educacional das famílias afeta o desempenho dos estudantes.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), medida internacional que leva em conta a escolaridade, renda e longevidade da população, foi de 0,746, em 2010, ligeiramente acima da média do estado, que foi de 0,740, e da do Brasil, que foi de 0,727. No estado, temos o 5° melhor IDH, ao lado de Colatina. Não encontrei dados mais recentes a nível municipal.
A receita da prefeitura, prevista no orçamento de 2022, era de R$ 810,2 milhões, dos quais R$ 85 milhões proviriam de operações de crédito. Somos o quinto município do estado em termos de valor do orçamento municipal, isto em 2022. Em termos per-capita, porém, estamos no 70° lugar.
A razão dessa péssima colocação deve-se às regras de divisão do Fundo de Participação dos Municípios e dos 25% da arrecadação do ICMS pelo estado, baseadas na população – mas não proporcionalmente – e no inverso da renda per-capital. Há ainda o impacto dos royalties do petróleo
Conclusão
O Sul do estado não é propício, pelo seu relevo na maior parte acidentado, à produção agrícola em grande escala. Em termos de transporte, perdemos nossa malha ferroviária, o que contribui para nos isolar um pouco mais economicamente.
Temos hoje um parque industrial de relativo porte. Apesar dos esforços da Secretaria de Desenvolvimento Econômico na administração Casteglione não houve sucesso na atração de médias e grandes empresas de fora da região. Em termos de dinamismo industrial, a exceção é o setor de rochas ornamentais, que mostrou franco crescimento por mais de 40 anos, tornando a região de Cachoeiro a mais importante do Brasil nessa área, com a instalação de centenas de empresas no setor e outras que surgiram para dar suporte à atividade principal. Esse polo econômico foi criado em consequência da exploração de mármore, em grande parte exportado em blocos, que acabou gerando o setor de processamento de granito, em boa parte importado do Norte do estado, de Minas Gerais e da Bahia. Há cerca de 25 anos, a região de Cachoeiro era responsável por mais da metade do total da exportação brasileira de rochas ornamentais.
A distância das fontes de suprimento, a falta de um meio de transporte mais eficiente, os incentivos fiscais vigentes em regiões potencialmente competidoras (Norte do estado, Bahia e parte de Minas), são as causas da perda de participação na produção do País.
Esse processo de perda de substância do setor de rochas ornamentais provavelmente irá se aprofundar. Vejo como ameaça importante a criação da Zona da Processamento de Exportação em Aracruz. Essa ZPE estará associada a um complexo logístico portuário, em construção. O setor de rochas ornamentais é um dos alvos da empresa implantadora da ZPE e do porto. As empresas que lá se instalarem gozarão de incentivos fiscais não disponíveis na região Sul.
Se existem ameaças para o há de mais dinâmico em nosso setor industrial, o setor de serviços, que tende a ser sempre o mais importante, a meu ver poderá, com o tempo, ver seu crescimento ameaçado pelo progresso do trio Itapemirim, Marataízes, Presidente Kennedy. O crescimento populacional e os recursos das administrações municipais não tenho dúvidas que farão desenvolver os setores de saúde e educação e prestação de serviços em geral. O setor de serviços em Cachoeiro tende a ir se tornando cada vez mais um supridor de necessidades locais.
A questão não pode ser vista apenas como responsabilidade do poder municipal. As lideranças de nossa sociedade, os clubes de serviço, têm que se mobilizar e lutar por Cachoeiro. Nossa História registra essa atuação, de que são exemplos a construção da ponte entre os lados Sul e Norte, com estrutura de ferro importada da Alemanha, isto em 1887, a construção de estradas de rodagem por iniciativa particular, a criação de inúmeras instituições, como o Grêmio Bibliotecário Cachoeirense, em 1883, a Santa Casa, em 1900, (originalmente era a Associação de Beneficência Cachoeirense) e que cresceu e se manteve com os esforços da comunidade, a iluminação pública elétrica, em 1903, o Caçadores Carnavalescos Clube, o primeiro clube social do estado, cuja pedra fundamental da sede foi lançada em 1903, entre outras obras e entidades provenientes da mobilização de nossa sociedade.
Se por nossa localização e recursos locais temos dificuldade de atrair investimentos de porte, se as perspectivas do setor de rochas ornamentais não permite que se mantenha como motor de nosso crescimento, se no setor de serviços podemos, cada vez mais, deixar de ser o foco de atendimento a moradores de outros municípios, o que se pode fazer para garantir o nosso crescimento e frear a perda de nossa importância relativa dentro do estado?
Um ponto a meu ver importante seria a viabilização para uso comercial de nosso aeroporto. É certo que não basta ter aeroporto para se ter voos mas ter um aeroporto de boas condições técnicas é condição necessária.
Pode-se pensar numa política de estímulos para a criação de um polo de confecções, importante em muitas cidades. Há um mercado local, não só de roupas mas de muitos produtos que, quem sabe, poderiam ser produzidos na cidade.
Um setor que praticamente não existe em Cachoeiro é o de turismo.
O Itabira e o Frade e a Freira, se estruturados como parques, podem dar margem a um turismo de apreciação da natureza, ou mesmo de aventuras.
Cachoeiro tem uma importância desproporcional em termos artísticos, com cantores, compositores e atores que tiveram renome nacional, como Raul Sampaio, seu primo Sérgio Sampaio, Carlos Imperial, nada menos do que Roberto Carlos, Jece Valadão, Luz del Fuego, e outros não tão conhecidos nacionalmente mas de grande valor, como Arnoldo Silva (desculpem as omissões). De igual modo que Conservatória no estado do Rio ganhou reconhecimento nacional como a cidade da Seresta, Cachoeiro poderia explorar sua herança musical, com a criação de museus, centros culturais, o que seja, individualizados, modernos na sua arquitetura e formas de exposição, para cultuar esses vultos. Temos a Casa de Roberto Carlos, mas é modesta demais para refletir sua importância.
No Centro Cultural em homenagem a Roberto Carlos, idealmente próximo de sua antiga residência, penso na carreira de Roberto Carlos gerando uma linha de tempo sobre a evolução de nossa música popular, que pode facilmente se estender para A.R. (antes de Roberto Carlos). E quem sabe, copiando os Estados Unidos, criar-se um Hall of Fame da música popular, ou da musica romântica, em que um grupo de especialistas nacionais elegeria cantores de sucesso para pertencer a esse Hall of Fame.
Nossa singular fábrica de pios poderia ser associada a um pequeno zoológico de aves cujos pios são lá produzidos, com a história da fábrica, demonstrações do uso dos pios por meio de vídeos, explorando o lado ecológico de algo originalmene destinado à caça.
Incrível não haver ainda em Cachoeiro o Museu do Mármore e Granito, ou de Rochas Ornamentais, contando a História do setor, lembrando suas figuras pioneiras, sua importância econômica na região e no Brasil. Dever-se-ia viabilizar um programa de visitas a empresas processadoras e, principalmente às jazidas, visitas essas cujo custo seria cobrado dos tursitas interessados. Atenção lideranças do setor de rochas ornamentais!
Já temos a Casa dos Braga e urge criar o Museu Histórico de Cachoeiro, não tanto com objetivos turísticos, mais para a preservação da História de Cachoeiro, que cada dia se perde mais.
Se a perda de população reflete em boa parte a recente fragilidade econônica de Cachoeiro, ao lado da atração dos munípios beneficiados pelos royalties de petróleo, há que reconhecer que a qualidade de vida de Cachoeiro não é das mais atrativas, dados os problemas de trânsito e, principalmente, o calor que nos aflige, cada vez pior com a substituição de terra nua por prédios e asfalto, além do aquecimento global. Com isto, Cachoeiro perde um contingente, se não tão importante numericamente, relevante em termos financeiros, principalmente de aposentados, mesmo que de famílias tradicionais de Cachoeiro, e que se mudam especialmente para cidades do litoral.
Urge tentar minorar o calor com o aumento da cobertura florestal no entorno de Cachoeiro e na maior arborização da cidade – o que resta é fruto de trabalho de mais de 80 anos – e, seguindo o modelo de algumas cidades, como Fênix, no Arizona, substituir o asfalto negro por uma cobertura branca e assim reflefir os raios do sol. E que por conseguinte não retém o calor.
Como financiar esses projetos? Além da contribuição municipal, há de haver o envolvimento das lideranças da sociedade, da iniciativa privada, voltada a uma visão comunitária e não de simples exploração comercial, que também cabe, e a busca de recursos estaduais e federais. Não vejo grandes obras em Cachoeiro sendo feitas com recursos do estado e especialmente do governo federal. Há que mobilizar o que nos resta de influência política para conseguir o aporte de recursos oficiais, que podem ser relevantes.
Fiz deste texto um grito de alerta e um pedido de socorro de um cachoeirense que ama sua cidade e que sofre ao vê-la, a despeito de sua História tão relevante, condenada a perder relevância no estado e no País.
Paulo de Tarso Medeiros é economista, escritor e membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL)
OBS: Artigo escrito para ser publicado na Revista Você+. Uma versão com eliminação de algumas partes para adequar o tamanho à disponibilidade de espaço foi publicada na versão impressa da Revista.