Das cinco regiões do Estado, três apresentam um crescimento nos casos de feminicídio
De janeiro a outubro deste ano, o Espírito Santo registrou 30 casos de feminicídio. O número é 42,9% maior que o registrado no mesmo período do ano passado – quando 21 mulheres foram assassinadas – e supera todos os crimes dessa natureza registrados em todo o ano de 2020 (26 no total). Os casos preocupam e representam um desafio para o Estado.
Das cinco regiões do Estado, três apresentam um crescimento nos casos de feminicídio – que é o assassinato da mulher por questão de gênero, praticado principalmente pelo companheiro ou pelo ex. A região Noroeste encabeça o ranking, com um salto dos crimes em 300%. Em 2020, foram dois casos contra 8 já registrados neste ano.
Em segundo lugar, vem a região Sul, com um aumento de 133,3%. Os municípios do Sul registraram sete casos de feminicídio contra três do ano passado. A região metropolitana, embora nos homicídios gerais tenha apresentado queda de 15%, com relação aos feminicídios saltou de seis para oito casos (aumento de 33,3%).
O mês de outubro é o segundo com maior número de casos no ano, foram cinco crimes, só perdendo para junho, que registrou seis. Os feminicídios representam 31,25% de todos os assassinatos de mulheres cometidos nesse ano. Ao todo, 96 mulheres foram mortas, pelos mais variados motivos, de janeiro a outubro deste ano, o que também representa um aumento de 17,1% em comparação ao mesmo período do ano que passado, quando 82 foram assassinadas. As mortes de mulheres neste ano são as maiores desde 2017 – ano em que os crimes explodiram principalmente por conta da paralisação da PM.
Raio-X
Dados do Observatório de Segurança Pública/Sesp mostram que 53,3% dos autores dos feminicídios eram maridos, companheiros ou namorados das vítimas. O que torna o crime ainda mais difícil de se combater e evitar, segundo o secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho. “Trata-se de um crime que acontece entre quatros paredes, às vezes não dá tempo da polícia chegar para evitar”, disse. Em outros 36,7% dos casos, os autores dos crimes eram ex-maridos, ex-companheiros e ex-namorados.
Em 50% dos registros, foram usadas armas brancas (faca, facão, etc) para cometer os crimes. A arma de fogo foi utilizada em 26,7% dos assassinatos, e em 23,3% dos casos foram usados outros meios, segundo a Sesp.
Os dados do Observatório mostram também que 66,7% das mulheres que foram assassinadas eram pardas ou negras e 38% tinham entre 30 e 39 anos. Os números mostram ainda que entre as vítimas, 7% tinham entre 0 e 14 anos. Ou seja, duas meninas foram vítimas de feminicídio no Estado.
“Sociedade altamente machista”
O secretário disse que a responsabilidade de se combater a violência contra a mulher é de todos. “A responsabilidade não é só da Segurança Pública, é de todos, a prevenção começa dentro da própria casa. Ainda temos uma sociedade altamente machista, patriarcal. Embora a PM e a PC tenham um papel importantíssimo, fica muito difícil cobrar só deles. Temos que desconstruir esse formato de machismo com educação desde a base”, disse Ramalho.
Ele citou projetos que o governo têm, como a “Patrulha Maria da Penha” e o “Homem que é homem”, e o trabalho que é feito com palestras, conscientização e educação para a redução dos crimes de violência doméstica. “Lamentavelmente, os crimes aumentaram”.
O governo também estuda novos projetos, como um que associa o uso de um smartphone, por parte da mulher, com o uso de tornozeleiras, por parte dos homens agressores. Um sistema seria acionado, tanto no celular quanto na tornozeleira, todas as vezes que o agressor se aproximar da vítima, dando tempo para a mulher sair da rota do agressor e da polícia detê-lo. Segundo Ramalho, esse sistema de proteção às mulheres já é utilizado em Brasília e estaria em estudo para ser aplicado no Estado.
Onde é mais perigoso
Das 96 mulheres assassinadas nesse ano, 11 foram mortas em Vila Velha. É o município com o maior número de assassinatos de mulheres do Estado. Em seguida vem o município de Cariacica, com 10 crimes.