A Defesa Civil acredita que o incêndio no Monte Aghá pode ter sido causado por uma guimba de cigarros acesa
por Luciana Maximo
O pôr do sol neste sábado (11), foi mais um vez esplendido para quem estava a margem da praia em Piúma-ES. O sol foi se escondendo vagarosamente por trás do Monte Aghá, o Monte de Ver Deus, assim chamado pelos índios. Porém, antes de todo o esconderijo, logo se avistaram chamas em torno do cume da pedra que chamou atenção de todos que estavam na praia contemplando o entardecer boreal.
A Reportagem que fazia uma transmissão ao vivo pelo face do pôr do sol, aproveitou minutos depois para registrar o incidente, que ainda não se sabe se foi criminoso ou não.
Imediatamente a Reportagem seguiu para Itapemirim-ES, de onde é possível escalar a pedra para acompanhar os trabalhos da Defesa Civil que monitorava o incêndio no Monte Aghá. Contudo, um dos agentes afirmou naquele momento, por volta das 18h30 que havia acionado o Corpo de Bombeiros, que deveria estar a caminho.
Com a noite caindo, a escuridão tomou conta e o breu dificultou a ação dos bombeiros, que até as 21 horas não se tinha nenhuma informação de combate ao fogo que se alastrava na vegetação rodeando a imensa pedra.
A Defesa Civil informou que o combate deveria ser através de helicóptero pelas dificuldades de acesso ao local a noite. A Reportagem não conseguiu falar com os Bombeiros.
A Defesa Civil acredita que o incêndio no Monte Aghá pode ter sido causado por uma guimba de cigarros acesa. Mas, a Reportagem teve acesso a um vídeo onde três jovens aparecem neste sábado se divertindo no alto da pedra, e umas das cenas e de fogo ateado.
A ambientalista Josephina Guimarães que também atuou na ONG que lutou pelo tombamento do Monte Aghá há 35 anos está super preocupada com o incêndio, ela disse que nesta época de muito calor é qualquer descuido pode gerar uma tragédia sem precedentes. Jô afirmou que o Monte não pertence a uma cidade em especial, é um Patrimônio Tombado pela Secretaria Estadual de Cultura – Secult, logo é de todos, é da humanidade, não cabe a Itapemirim apenas apagar o fogo, é de todos a responsabilidade. Piúma é contemplada com maior beleza com a esplendorosa pedra no final da paisagem, sendo fotografada por milhares de pessoas.
O NOME
Explicou Josephina que entre os nomes e significados, o Monte Aghá significa em Tupi Guarani, ¨Monte de se ver Deus¨. Ele é um marco divisório do município de Piúma e Itapemirim, e tem uma altura de aproximadamente 340 metros, onde lá de cima pode ser visto cidades vizinhas, também conhecido como Monte Solitário.
De acordo com Josephina Guimarães, o Monte Aghá foi muito importante para navegação e até hoje é para pequenas embarcações. “Em forma de pirâmide ou cônica, a sua imponência domina toda região e transforma num belo cartão postal que impressiona os visitantes e é reverenciado pelos piumenses e turistas que ao fim da tarde contemplam o espetáculo do pôr do sol”, comentou Jô.
Tombado há 35 anos
O Monte Aghá completou 35 anos de Tombamento e esse marco histórico se deve a busca incessante de um grupo que fazia parte do Centro Cultura de Piúma, à época, a publicitária Adélia Maria de Souza era a então presidente.
A preocupação do Centro Cultural de Piúma, há 35 anos, era preservar o patrimônio que estava sendo ameaçado. No ano de 1984, o monte passou a ser alvo de atividades extrativista pela implantação de uma pedreira. Registros fotográficos, abaixo-assinado, e outras solicitações da ONG piumense, chamaram a atenção do Conselho Estadual de Cultura para o Tombamento. E no dia 17 de dezembro de 1985, foi publicado no Diário Oficial, a resolução 06/85, o imponente Monte Aghá ficou definitivo escrito no Livro de Tombo Arqueológico, tombado pelo Conselho Estadual de Cultural, vindo a completar 30 anos.
“O Monte Aghá é um marco, não só pela sua beleza, na época ele estava sendo ameaçado por uma pedreira e a ONG começou a trabalhar em cima desse fato através do processo que iniciamos no Centro Cultural, surgiu o tombamento que garantiu a preservação do patrimônio. O Monte Aghá é um patrimônio de todos, não cabe discutir a quem pertence o monte em se tratando de extensão territorial, independentemente disso, as pessoas devem trabalhar para preservá-lo. Deveria ter um grupo de pessoas para fiscalizar e protegê-lo”, ressaltou o professor de Biologia Nelson Welerson.
Para Adélia Maria de Souza, o Tombamento do Monte Aghá iniciou na história um novo tempo e possibilitou que o patrimônio fosse preservado. “A questão não é discutir onde está o Monte, os fundos ficam para Itapemirim e a frente para Piúma, mas ambas visões denotam expressão de poder. Quem o vê de Piúma, tem a visão de uma pirâmide, através do triângulo, e nos fundos vê-se um elefante, e ambos têm o seu poder. A questão não é brigar e sim preservar, o patrimônio é de todos”, frisou Adélia que na época presidia o Conselho Cultural de Piúma.
Índios cultuavam no cume do monte os seus deuses
No cume do monte, segundo os pesquisadores, os índios subiam para cultuar seus deuses com suas danças e ervas. O Monte Aghá atrai jovens e adultos que praticam algumas modalidades esportivas como caminhada e voo livre.
Não é só a sua aparência de pirâmide que encanta. No monte se encontra diversas bromélias, a orquídea descoberta por Roberto Kastsky, orquídea azul Sinningca Aghacnse e a branca “Brassavola”. No local existe ainda outras espécies de orquídeas. Nas encostas do Monte Aghá, podemos encontrar uma fauna e flora bastante importante, árvores centenárias como Pau-d’alho, Pau-ferro e tantas outras espécies.
Paisagem
Outro encanto do monte está na paisagem que esse propicia ao aventureiro que chega ao seu topo. A subida pelo lado piumense é íngreme e, portanto, perigosa. Pelo lado do município de Itapemirim é possível subir por meio de uma trilha com mais segurança, ainda que não exista nenhum tipo de apoio ao turista, tais como guia, a subida é prática constante entre visitantes e moradores. Do topo, é possível observar todo o município de Piúma, de Iconha, de Itapemirim, parte de Rio Novo do Sul, e de Anchieta, além de poder observar as extensões de praias e outros montes, tais como o Frade e a Freira e o Monte Urubu.
Porto pode ameaçar
Atualmente existe uma preocupação ambiental e arqueológica em relação ao projeto de construção do Porto da Gamboa, quanto a execução do segundo trecho de estrada que contorna o Monte Aghá, que começa no (Espaço 1) e entra pelo Haras Monte Aghá. No momento, o DER não tem prioridade de realização dessa estrada, segundo informações extraoficiais. “Caso esse projeto venha ser reativado, precisamos está atendo quantos aos prejuízos que possam causar ao meio ambiente. Outra preocupação é quanto ao desmatamento que vem ocorrendo alguns anos, tem propriedade que o desmatamento chegou já na pedra do Aghá”, aviou Josephina Guimarães.