Lançamento será no Palácio da Cultura Sônia Cabral, às 19h, no Centro de Vitória, com a presença de Vera Eunice de Jesus, filha da escritora Carolina Maria de Jesus
Um Lugar De (E Que) Fala. Esse é o nome do livro que será lançado no dia 11 de outubro, às 19h, no Palácio da Cultura Sônia Cabral, no Centro de Vitória. A obra, que traz crônicas de autoria das detentas da Penitenciária Feminina de Cariacica, no bairro Bubu, foi organizada pela escritora Kátia Fialho e pela jornalista e escritora Elaine Dal Gobbo, ambas integrantes da Academia Cariaciquense de Letras (ACL), e foi possível por meio 002/2021 – Valorização da Diversidade Cultural, com apoio do Fundo Nacional de Cultura (Funcultura) e da Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo (Secult/ES).
O lançamento contará com a presença de Vera Eunice de Jesus, filha da escritora Carolina Maria de Jesus, que escreveu Quarto de Despejo – Diário de Uma Favelada, livro lido coletivamente junto com as detentas durante as oficinas de crônicas que deram origem ao livro que será lançado no próximo dia 11.
Os livros serão vendidos no dia do lançamento, quando haverá uma noite de autógrafo, pelo valor de R$ 30,00. Posteriormente, poderá ser adquirido diretamente com as organizadoras. Os textos foram escritos pelas detentas durante oficinas de crônicas realizadas por Elaine Dal Gobbo e Kátia Fialho na própria penitenciária. As organizadoras assinam uma crônica cada uma, feitas com base na experiência vivida por elas durante a execução do projeto.
“O público vai se deparar com textos sensíveis, onde estão expostas dores como as da violência doméstica, do abandono, mas também muito amor, como o pela família, e também, muitos sonhos, inclusive, o de iniciar uma nova trajetória de vida”, diz Kátia, que destaca que o projeto busca chamar atenção para a realidade das mulheres privadas de liberdade, “que são invisíveis para a sociedade”, e oportunizar a elas o direito ao acesso à cultura.
As oficinas de crônicas foram precedidas pelas de leitura, nas quais foi feita uma leitura coletiva e participativa de trechos do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, tendo como objetivo a formação de leitoras e, também, a oportunidade de proporcionar às detentas o acesso à literatura brasileira – em especial, a produzida por uma autora negra e periférica, realidade que se assemelha àquela vivida na pele pela maioria das mulheres em privação de liberdade.
Quarto de Despejo foi publicado em 1960. Nele, consta parte do diário da autora, no qual narra suas vivências na Favela do Canindé, em São Paulo, como o dia a dia de sua profissão de catadora de papel, a relação com a vizinhança, a experiência de ser mãe e, também as dificuldades pelas quais passa juntamente com o restante da comunidade, como a fome, a precariedade habitacional, a falta de saneamento básico e outros problemas oriundos da ausência do poder público na favela, que ela denomina como “quarto de despejo”.
“As oficinas, a possibilidade de fazer com que as detentas se expressem, são fundamentais para desmistificar o local onde elas estão, que também é um lugar de fala”, diz Kátia. Nas oficinas de leitura, após contato com trechos de Quarto de Despejo, foi estimulada a participação das mulheres por meio do compartilhamento de impressões, interpretações e assimilações, fazendo uma ligação entre a obra e a realidade delas.
Premiação
Antes mesmo do lançamento do livro o projeto já havia recebido uma premiação, ficando em primeiro lugar no Edital DiversidadES – 2º Prêmio de Boas Práticas em Promoção da Cidadania LGBTI+ do Estado do Espírito Santo, na categoria pessoa física. O prêmio é organizado pela Secretaria de Direitos Humanos (SEDH), por meio da Gerência de Políticas de Diversidade Sexual e Gênero. O objetivo é selecionar e premiar iniciativas que visam ao combate à LGBTIfobia e à promoção da cidadania LGBTI+.
O edital prevê o prêmio no valor de R$ 5 mil para oito diferentes iniciativas de boas práticas que promovam os direitos humanos da população LGBTI+ apresentadas por pessoa física e duas iniciativas apresentadas por pessoa jurídica ou coletivos. As oficinas realizadas na Penitenciária não eram voltadas para mulheres lésbicas, mas contava com participantes dessa orientação sexual, uma vez que as lésbicas não são encaminhadas para a Penitenciária de Segurança Média 2 (PSME2), em Viana, exclusiva para a Comunidade LGBTQIA+.