ALERTA DE SPOILLER
(CASO ALGUÉM NÃO TENHA ASSISTIDO AOS FILMES DO ROCKY BALBOA, FIQUE AVISADO)
Cresci vendo a vida dramática do Rocky Balboa como muitos da minha geração. Apesar de saber de cor alguns clichês dos filmes da série, nunca imaginei que um dia poderia estar em um ringue tentando ficar de pé durante três minutos enquanto o adversário despeja uma sequência de golpes em mim. Não que eu tenha frequentado ringues oficiais de luta, já que minha avançada idade não permite essas travessuras. Mas as experiências de sparring junto com os atletas (esses atletas de verdade) que tenho vivenciado nesse ano me dão um vislumbre ainda que um tanto limitado da experiência fictícia do Balboa.
Viver essas experiências “reais” do boxe me fizeram entender que algumas lições do Rocky Balboa são bem realistas. E mais úteis para a vida do que eu imaginava. Passei a levar mais a sério os clichês do dramalhão. Balboa se tornou um tipo de “coach” virtual para mim, um anjinho imaginário a quem você pergunta como deve agir em certas situações. Não serve muito para a hora do sparring. Nesse momento eu preciso mesmo é do Ronaldo – meu professor – berrando para eu não baixar a guarda já que, obviamente, se eu baixar a guarda o golpe vai me atingir diretamente e minha brincadeira vai ter que parar.
O Balboa imaginário de asinhas mistura clichês dos filmes com fundamentos básicos da “nobre arte” e acaba sendo até bem útil. Coisas do tipo “Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha.” Afinal, cá entre nós, Apolo era um boxeador muito melhor que o Balboa, que só ganhou porque o Doutrinador não aguentou mais levantar de tanto que bateu no Garanhão Italiano. Aliás, Rocky continuou um boxeador medíocre nos filmes posteriores. Melhorou um pouquinho tecnicamente graças ao próprio Apolo, no filme três.
Parece coisa de filme, mas uma luta emblemática foi a dos pesos pesados Anthony Joshua e Andy Ruiz em junho de 2019. O mexicano visivelmente sem muito preparo físico derrubou o inglês campeão de tanto que aguentou apanhar. Certo que depois ele perdeu, mas a lição ficou.
O fato é que bater cansa. E quem cansa demais antes da hora cai. Tenho aprendido com o meu professor de Boxe, o Ronaldo – e com o Balboa de asinhas – que não adianta muito ser mais forte e mais preparado se você não consegue manter seu equilíbrio enquanto os jabs, diretos, cruzados, etc, vão te bombardeando. Não adianta muito ir com tudo e logo ficar sem nada. Vai virar saco de pancadas. A maioria dos seres humanos do planeta não é Myke Tyson. Certamente nem eu nem você, querido leitor, somos o Myke Tyson.
A vida é meio assim, uma sequência de lutas, cada uma com uma sequência de rounds. E meu conforto quando a situação aperta no sparring é que o round tem só três minutos. Quando não dá para ganhar, a meta é ficar de pé até acabar. Se não der, também não tem problema. A ideia é não se machucar (muito) para poder lutar outro dia.
Com essas lições eu tenho levado esses meus nove meses de Boxe com Ronaldo, de vida em uma cidade diferente, de distância dos filhos, da família, de enfrentar as dificuldades atuais do país com o intuito de produzir e transmitir conhecimento nas minhas atividades atuais na Universidade Vila Velha.
Mesmo não sendo um grande boxeador – a exemplo do meu Balboa imaginário de asinhas – vejo a cada dia que o importante é vencer algumas lutas e, principalmente, deixar registrado uma história marcante que inspire as pessoas a se superarem sempre.
Sigamos heroicos, diria meu amigo Diego Scarparo.