“Nós já tivemos, que eu tenho conhecimento, duas gestantes que pariram na ambulância, sem médico. Isso é desumano…”. O relato é do médico mimosense Nilmar Faber, um dos participantes da audiência pública da Comissão de Saúde realizada na quarta-feira (28) em Mimoso do Sul para debater os desafios do setor no município. Ele foi um dos que cobraram a reativação da maternidade no município do sul do estado.
Outras demandas apresentadas na audiência são referentes ao processo de contratualização estadual com hospital da rede privada e à demora na regulação de exames – sistema de marcação de procedimentos especializados na rede pública.
De acordo com o presidente da comissão e proponente da audiência, deputado Dr. Bruno Resende (União), a reativação da maternidade é uma questão que deve ser amplamente discutida:
“A maternidade foi uma perda enorme para o mimosense. Eu sinto essa dor todos os dias, até hoje. E tenho certeza que todos vocês sentem (…). A viabilidade da maternidade tem que ser discutida o tempo inteiro, realmente. A grande discussão é a exigência, por parte do Ministério Público inclusive, de médicos 24 horas, equipe multiprofissional 24 horas… É uma questão financeira também”, ressaltou o parlamentar.
Sobre o assunto, o médico Nilmar Faber contou ainda relatos de pacientes que foram atendidas em pé em hospital da região, por falta de espaço, e cobrou um posicionamento do parlamentar. “É desumano o que estão fazendo. Eu quero que você verifique, porque nossas gestantes lá estão sendo mal atendidas por falta de espaço”, afirmou o profissional.
Exames
Já sobre o agendamento de exames e a demora na realização de procedimentos de alta complexidade, o vereador e ex-secretário municipal de saúde Cristiano Valpasso (Republicanos) afirmou que o sistema de regulação não funciona no município.
“O atraso para regular nossos exames, nossas consultas, nossos encaminhamentos que são feitos nos postos de saúde. Muitas vezes os pedidos são encaminhados para o setor de regulação, o médico não regula, devolve para o posto de saúde pedindo exames… Isso atrasa a vida do paciente”, destacou Valpasso.
O vereador Welisson Pires (PSDB) concordou e protestou contra a demora na realização de exames de alta complexidade. “É inaceitável vermos um mimosense esperar na fila seis meses e até um ano (…) para fazer uma ressonância no nosso município. Nós temos hoje dois hospitais só, no sul do estado, para fazer esse tipo de exame. É inaceitável! Como que pode o sul do estado ter somente dois hospitais que façam exames de alta complexidade, como ressonância, tomografia, entre outros? (…) Até quando nós vamos ter uma saúde deficitária como está? Temos que rever certas situações do município”, clamou o parlamentar.
Segundo o superintendente regional de Saúde (Região Sul), Márcio Cleyton da Silva, a fila de exames teve atraso considerável após problemas estruturais nos hospitais que oferecem ressonância magnética.
“Dois hospitais realizam ressonância na região. Nós temos um contrato de 1.500 exames (…). Devido a problemas com as máquinas, foi gerada uma fila de 4.600 exames. Nós, da superintendência, estamos abrindo credenciamento para verificar a possibilidade de comprar 5 mil ressonâncias para tentar amenizar. Nós não vamos resolver. A fila é viva, e muito viva por sinal, a demanda, a inserção, é direta”, afirmou Silva.
Para o superintendente, um dos grandes desafios do setor é o treinamento de profissionais e a dificuldade em manter o médico dentro da atenção básica de saúde.
Os participantes da audiência foram uníssonos ao afirmar que o Hospital Apóstolo Pedro, da rede privada, possui estrutura suficiente para atender a demanda de saúde local.
“Dentre os hospitais que temos no interior, o nosso está muito bem preparado (…) nós temos um hospital, hoje, preparado para prestar serviço ao Estado”, frisou o diretor-geral da instituição, Evaldo Cesar Farias Araújo. De acordo com o gestor, o hospital possui salas de cirurgia, leitos e aparelhos para exames de tomografia, densitometria, raios-x e mamografia disponíveis.
Para que possa atender ao governo do Estado, porém, oferecendo consultas, exames e demais procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital carece de uma nova contratualização – processo pelo qual as partes (governo e hospital) estabelecem metas quantitativas e qualitativas de atenção à saúde e de gestão hospitalar.
O presidente da Comissão de Saúde da Ales cobrou o processo de recontratualização e destacou, ainda, que a regionalização da saúde no sul do estado pode ser uma saída viável:
“Mimoso, hoje, tem um centro de cirurgia que não funciona, quase. Nós temos duas salas cirúrgicas que não funcionam, quase. As cirurgias eletivas reduziram drasticamente. Nós temos um centro de diagnóstico maravilhoso que diagnostica pouco. Uma tomografia nova, que não tomografa ninguém. Então nós temos uma estrutura de saúde incrível, que foi paga com o dinheiro de todo mundo que assiste aqui. E nós precisamos fazer esse recurso virar vida capixaba. Vida mimosense. É nossa responsabilidade que agora tenhamos força para dizer ao governo do Estado que nós queremos o Hospital Apóstolo Pedro funcionando na íntegra”, frisou.
A audiência pública da Comissão de Saúde sobre a maternidade aconteceu na Câmara de Vereadores de Mimoso do Sul e contou ainda com a presença de demais vereadores do município, ex-prefeitos, representantes da Secretaria Municipal de Saúde e população em geral.