Há 48 anos, um dos visitantes mais ilustres da história do Espírito Santo chegava em Cachoeiro de Itapemirim, interior do estado. As horas em que o futuro Papa João Paulo I esteve em solo cachoeirense estão eternizadas em uma placa de aço fundido.
Em 1975, ainda sob o pontificado do Papa Paulo VI, o Cardeal Albino Luciano esteve em visita ao Brasil devido a laços de parentescos familiares no Estado do Rio Grande do Sul e participar da 32° Romaria de Nossa Senhora Medianeira, a convite do bispo Dom José Ivo Lorscheider e na ocasião a Universidade Federal de Santa Maria concedeu ao Cardeal, futuro Papa João Paulo I, o título de Doutor Honoris Causa.
O que tem haver o Cardeal Albino Luciani com Cachoeiro de Itapemirim?
O primeiro bispo diocesano de Cachoeiro de Itapemirim – Dom Luiz Gonzaga Peluso – a convite do Papa João XXIII e depois do Papa Paulo VI, participou do Concílio Vaticano II, entre os anos de 1962 até 1965.
E certamente nos intervalos das sessões do Concílio no Vaticano possuía contato com os padres e bispos conciliares, dentre esses com Dom Luiz, daí a aproximação e com a visita pastoral ao Brasil em 1975, por que não visitar o amigo bispo de Cachoeiro de Itapemirim?
Essa visita ficou registrada numa placa que marca o dia 15 de novembro de 1975, e de uma das janelas do antigo Instituto Padre Anchieta (IPA – antigo colégio dos padres) na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, abençoou a pequena Cachoeiro.
Logicamente, a bênção foi dada pelo Cardeal Albino Luciani, que com certeza não sonhava em suceder ao Papa Paulo VI no trono de São Pedro, mas que em 26 de agosto de 1978 foi eleito como o Papa João Paulo I, sendo sucedido em outubro de 1978 pelo Papa João Paulo II.
Quem foi Albino Luciani?
Albino Luciani, oriundo de família humilde, nasceu em 17 de outubro de 1912, em Forno di Canale, (hoje Canale d’Agordo), na província de Belluno, no norte da Itália.
Foi ordenado diácono transitório em 2 de fevereiro de 1935, sendo ordenado presbítero em 7 de julho de 1935.
Foi ordenado bispo de Vittorio Veneto, em 27 de dezembro de 1958, na Basílica de São Pedro pelo Papa João XXIII, sendo nomeado Patriarca de Veneza em 15 de dezembro de 1969.
Foi criado Cardeal no dia 5 de março de 1973 pelo Papa Paulo VI, na ordem de Cardeal-Presbítero, com o Título de São Marcos.
Com o falecimento do Papa Paulo VI, após a realização do conclave, foi efeito em 26 de agosto de 1978 como Bispo de Roma (Papa), tendo escolhido o nome duplo de João Paulo (para homenagear o Papa João XXIII e o Papa Paulo VI).
Após sua eleição, tornou-se rapidamente conhecido na Cúria Romana pelo apelido de Papa Sorriso, por sua afabilidade. Ele permaneceu como Sumo Pontífice por 33 (trinta e três) dias, tendo falecido no dia 28 de setembro de 1978 e no dia 4 de setembro de 2022 foi beatificado pelo Papa Franciso.
A proximidade de Albino Luciani com o Brasil
Em 15/10/2021, o site da CNBB, ao tratar de João Paulo I, destacou dois pontos que o unia ao Brasil. O primeiro é a sua ligação com os cardeais Dom Aloísio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns. Estes teriam, no conclave, ajudado a articular a escolha de Luciani para suceder São Paulo VI, mas Luciani mesmo votara, como revelou depois, em Dom Aloísio Lorscheider para ocupar o Trono de São Pedro.
“Tal era a estima e o apreço de João Paulo I pela densidade humana e pastoral do então arcebispo de Fortaleza. Uma estima recíproca. Luciani e Lorscheider tinham sido padres conciliares. Juntos, como jovens bispos, tinham participado de todas as quatro sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II”, afirma a matéria.
O segundo ponto é que Luciani esteve no Brasil e “Dom Aloísio acompanhou o futuro Papa João Paulo I, à época patriarca de Veneza, quando de sua ida a Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em novembro de 1975, ocasião em que recebeu o diploma honoris causa da Universidade Federal gaúcha”. O então cardeal patriarca de Veneza “se sentiu em casa em Santa Maria, pois tanto ele como o povo falavam vêneto. Vale ressaltar que do Vêneto – região italiana de origem de Luciani – partiram milhares de italianos para o Brasil, sobretudo entre os anos 1880 e 1950. Daí, uma forte presença de italianos e descendentes de italianos também no Rio Grande do Sul. Dom Aloísio lembrou a grande multidão que se reuniu na ocasião para ouvir o então patriarca de Veneza e as muitas pessoas que viu chorar quando Luciani, com simplicidade, dirigiu-se a elas falando em dialeto”. O Beato tem também parentes por parte de mãe em Santa Catarina: a família Tancon.
Reportagem colaborativa: Gustavo Lins | Pascom Paróquia N. S. da Consolação