O bispo de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, continua em Porto Rico, no Caribe, onde participa do 6º Congresso Americano Missionário (CAM6), realizado de 19 a 24 de novembro na cidade de Ponce, a segunda maior do país. O clérigo é o único bispo capixaba no evento.
62 brasileiros de diferentes regiões representam o país no evento, considerado de grande relevância para a Igreja Católica na América. Durante a manhã desta quinta, 21, o cardeal Enrique Porras Cardozo, presidente delegado do CAM6, leu a mensagem que o Papa Francisco enviou aos participantes do 6º Congresso Americano Missionário.
O Papa recordou a oração trinitária que fez em preparação para este Congresso, cujo fundamento é o encontro com Deus como filhos. “Exemplo desta maravilha são tantos missionários que, com palavras e ações, a anunciaram”, recordou ao evocar aquela oração.
O prodígio é operado em nós pelo Espírito Santo, invocado na Igreja desde os seus primórdios, como o demonstra a obra realizada em Maria, modelo de evangelização, e que se comunica em todas as línguas a todos os povos.
“Imitando o seu exemplo de dedicação e amparados pelo seu cuidado maternal e providente, sejamos sempre seus discípulos missionários até aos confins da terra. Que ela cuide de você e que Jesus te abençoe sempre”, concluiu o Santo Padre em sua mensagem.
Leia na íntegra da mensagem do Papa Francisco:
Caro Cardeal Baltazar Enrique Porras Cardozo,
queridos irmãos e irmãs:
Tens a alegria de participar neste VI Congresso Missionário Americano, precisamente no ano que quis dedicar à oração, em preparação ao Jubileu de 2025. E preparaste-te também para este evento com uma oração que quis oferecer-te, com esse motivo.
É uma oração dirigida à Santíssima Trindade, reconhecendo primeiro o Pai como Deus misericordioso, que, no seu Filho Jesus Cristo, nos revelou a “Boa Nova”, para lhe pedir que, através do Espírito Santo, derrame o seu Amor e renove a face da terra.
Este é o fundamento da missão, reconhecer-nos como filhos, tocados pela misericórdia de Deus. Não podemos dar o que não temos, não podemos expressar o que não vivemos, o que os nossos olhos não viram ou as nossas mãos tocaram. O fundamento da missão é a experiência de Deus, o encontro apaixonado com Jesus, Ele nos revela a “Boa Nova”, nos mostra o Pai.
Exemplo desta maravilha são – continua a oração – tantos missionários que, com palavras e ações, a anunciaram. Jesus foi um missionário, “um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo” (Lucas 24:19). Palavras pronunciadas diante de Deus, seu Pai, na oração íntima que precedeu todas as suas ações. Obras realizadas diante de seu Pai, numa vida totalmente dedicada à sua vontade, para poder testemunhar o maior amor diante de seu povo. Esta é a mensagem que os missionários continuaram a traduzir em todas as épocas, em todos os lugares, em todas as línguas. “Assim, a luz que há em vós deve brilhar diante dos olhos dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt 5,16).
Esta é a vocação do batizado a que se refere a oração, ver Deus, vê-lo no mundo, no irmão, ter olhos “cristificados” e com eles um olhar compassivo, acolhedor, misericordioso. Como diz um belo hino da Liturgia das Horas: “Eu te vi, sim, quando era criança e fui batizado nas águas, e, limpo de velhas culpas, sem véus pude te ver”. Um olhar que transmite a alegria que transborda nossos corações. A alegria dos discípulos depois do encontro com o Ressuscitado, que não pode ser contida e que os impele a iniciar o caminho.
O Espírito Santo opera em nós esta maravilha e coloca em nós as palavras para dirigirmos a Deus (Rm 8,14) e aos homens (Mt 10,19). Portanto, desde os primórdios da Igreja, junto com Maria, os discípulos no Cenáculo, em assembleia, a primeira coisa que fazem é invocar o Espírito. Através da sua força vivificante podemos transmitir a mensagem em qualquer língua, sim, porque a Igreja fala todas elas, mas, sobretudo, porque fala sempre na mesma língua. É a linguagem do amor, compreensível para todos os homens, pois faz parte da sua própria essência, a de ser imagem de Deus. Desta forma, a alegria do Espírito não termina neles, mas é expansiva, comunica-se, chamando-nos a caminhar juntos, como Povo fiel de Deus, na sinodalidade e na escuta mútua.
Ouvindo Deus e os nossos irmãos, podemos perceber como às vezes a sua imagem fica manchada diante dos nossos olhos cansados e parece que nos faltam forças para caminhar. Não devemos abandonar a nossa oração, pedindo incessantemente ao Pai que derrame o seu Amor, o seu Espírito vivificante, para que renove a face desta terra ferida pelas nossas injustiças e pelo sofrimento que causamos.
A Bem-Aventurada Virgem Maria, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo, apresenta-se como aquela arca da Aliança, aquele primeiro Sacrário que, recebendo Jesus, põe-se a caminho, ao serviço. Ela é modelo de evangelização para oferecer Cristo a toda a humanidade; porque na oração “guardava estas coisas no coração” (Lc 2,51), porque na assembleia dos crentes invoca o dom do Espírito Santo para a Igreja. Imitando o seu exemplo de dedicação e amparados pelo seu cuidado materno e providente, sejamos sempre seus discípulos missionários até aos confins da terra. Que ela cuide de você e que Jesus te abençoe sempre.
Roma, São João de Latrão, 9 de novembro de 2024
FRANCISCO
Fonte: Diocese de Cachoeiro