A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), concluiu o inquérito policial que apurava a prática de comércio ilegal de armas de fogo por parte de um empresário de 39 anos. Em uma ação realizada em dezembro de 2024, no bairro Vila Rica, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), o investigado foi preso em flagrante e 48 armas foram apreendidas.
Os detalhes foram divulgados em coletiva nessa terça-feira (28), na Chefatura de Polícia Civil, em Vitória. Foram apresentados os resultados das investigações, além dos detalhes sobre o perfil dos compradores. Também foram destacados os frutos da integração entre o Exército Brasileiro, a PCES e outras polícias civis do País.
De acordo com o delegado-geral da PCES, José Darcy Arruda, a criação da Desarme, em 2019, foi essencial para o combate ao tráfico de armas e munições, reduzindo a circulação de armamentos que fomentam crimes como roubos, homicídios e latrocínios. “Esse trabalho demonstra como estamos atuando não apenas na investigação de crimes consumados, mas também na prevenção, retirando armas das ruas e, com isso, evitando que novos crimes sejam cometidos”, destacou.
O superintendente de Inteligência e Ações Estratégicas (SIAE), delegado João Francisco Filho, ressaltou a complexidade da investigação, que possibilitou a apreensão de todas as armas adquiridas de forma ilegal.
O titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos, delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, explicou que a operação teve início em outubro de 2024, quando a Desarme recebeu documentos falsos que alegavam ser emitidos pelo Exército e conferiam porte de armas em todo o território nacional. “Sabemos que o Exército só tem competência para autorizar militares ao porte de armas. Assim, foi possível verificar prontamente que se tratava de um documento falso”, destacou.
Os documentos falsos foram encaminhados ao Exército para a confirmação da fraude, levando à descoberta de outros documentos semelhantes, todos relacionados a armas fornecidas por uma loja específica em Cachoeiro de Itapemirim. “O Exército iniciou uma fiscalização minuciosa com o apoio da Polícia Civil, listando as armas que ingressaram licitamente no estoque da loja. A fraude ocorria na saída dessas armas, utilizando documentos falsos para justificar vendas a pessoas sem direito legal de adquiri-las”, explicou Rodrigues.
Segundo o delegado, 55 armas foram vendidas com autorização da Polícia Federal de forma lícita, enquanto outras 14 foram vendidas com documentos falsos. “Identificamos seis armas entregues no Espírito Santo e oito em outros estados. As armas entregues aos capixabas já foram recolhidas. Não conseguimos comprovar má-fé dos compradores locais, pois o lojista se apresentava como despachante e alegava viabilizar a venda legal dessas armas”, afirmou.
Entre os compradores de outros estados, muitos têm antecedentes criminais graves. “No Rio de Janeiro, identificamos compradores com histórico de estelionato, falsificação de documentos e ligação com milícias. Um deles, inclusive, esteve envolvido em uma investigação junto ao famoso miliciano Orlando Curicica”, revelou Rodrigues. A integração entre as Polícias Civis dos estados e o Exército foi essencial para o desdobramento da investigação.
Outro ponto destacado foi a movimentação financeira do lojista. “Ele declarou faturamento mensal de R$ 17 mil, mas movimentou quase R$ 1 milhão em menos de nove meses. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou a utilização de laranjas e transações suspeitas. A loja, inclusive, estava registrada no nome de um funcionário responsável pela limpeza, manipulado pelo empresário”, relatou o delegado.
O titular da Desarme também mencionou que o empresário, preso desde 18 de janeiro, foi indiciado por comércio ilegal de armas, lavagem de dinheiro, estelionato e posse ilegal de arma de uso restrito. “Ele chegou a adquirir um fuzil semelhante ao usado pelas forças de segurança, simulando uma transferência ilegal para seu nome”, completou.