A vice-governadora Jaqueline disse que, em órgão público, já foi confundida com a assessora
Ser vigiada sob o olhar atento de um segurança de supermercado, confundido com pastor por usar terno e gravata ou até mesmo receber ameaças de morte seguidas de mensagens homofóbicas na internet.
Os relatos podem parecer comuns a quem sofre preconceito no dia a dia, mas, na verdade, eles foram feitos pela vice-governadora Jaqueline de Moraes (PSB), o advogado André Moreira e pelo senador Fabiano Contarato (Rede). Enquanto os dois primeiros alegam ser vítimas de racismo, Contarato garante lutar contra a homofobia.
Seguida no supermercado por ser negra
Após assumir a carga de vice-governadora do Estado, Jaqueline Moraes, 44 anos, foi seguida, com o marido, dentro de um supermercado por segurança do estabelecimento. O fato aconteceu em uma cidade do interior.
“Em cada corredor que eu passei com o meu marido, percebi que a segurança estava atrás. Eu comecei a fazer um teste com ele, pegava coisas caras nas mãos. E ele continua seguindo para todos os lados. Meu marido, que também é negro, estava de boné e bermuda ”, disse.
Ela chegou a perguntar ao motivo da desconfiança. “Ele falou que não estava seguindo, mas eu fiz o teste para mostrar que estava sim, porque eu era negra e estava acompanhada de um negro”.
Em comum, eles trazem no discurso a resistência a qualquer tipo de preconceito e a luta por respeito. Para conhecer essa realidade, A Tribuna ouviu políticos de vários partidos que revelaram as situações que já sofreram e como enfrentam o problema no dia a dia. Jaqueline revelou que se deparou com machismo quando ainda era vereadora.
“Me elegi em 2012, em Cariacica. Na época eram 16 vereadores e duas vereadoras. Eu percebia que chegava na Câmara e precisava me impor para alguns homens, para que eles pudessem me respeitar. Já teve caso de um vereador apontar o dedo para mim e eu apontar de volta. Não baixava a cabeça, não”, afirmou Jaqueline.
Ela destacou que, no mesmo mandato, foi confundida com a assessora. “Cheguei com minha assessora, que era loira, em um órgão público, e a recepcionista puxou a cadeira, virou para a minha assessora e disse: ‘Senta aqui, vereadora’. Na época, eu levei na brincadeira, mas é claramente um preconceito social, por eu ser negra”.
A vice-governadora explicou que acredita na educação como forma de combate ao preconceito.
“Acredito na representatividade afirmativa. As pessoas precisam se declarar. Também acredito na educação. Se for tratada de forma racista, irei denunciar”, garantiu. Contarato, que é homossexual, disse que, desde que entrou para a política, passou a receber dezenas de ameaças de morte por conta de sua orientação sexual.
“O preconceito que recebi em menos de um ano foi mais do que o que sofri a vida inteira. Eu luto pelo meu direito e tenho feito isso a todo momento. A liberdade de expressão não dá direito de que as pessoas pratiquem crimes. Tudo tem limite”, relatou Contarato.
Internauta desejou 44 mil chibatadas em parlamentar
Ao fazer uma postagem em uma rede social sobre o Dia da Consciência Negra, o vereador de Vitória Wanderson Marinho (PSC) foi surpreendido com um comentário preconceituoso.
“Esse merece 44 mil chibatadas”, escreveu um internauta para o parlamentar.
“Muitas vezes, a pessoa não sabe que é preconceituosa, mas, quando se depara com alguém negro que está no poder, ela acaba se rebelando.
Nesse caso, eu processei a pessoa e registrei ocorrência na delegacia. A punição que eu pedi foi uma retratação no Facebook, que ele fez”, afirmou o vereador.
André Moreira (Psol), que concorreu ao governo do Estado, afirmou que também já sofreu racismo.
“A gente só combate isso com política pública, mostrando que os negros podem ocupar qualquer espaço na sociedade”.
Segundo a Polícia Militar, em 2018 foram registrados 107 crimes de racismo no Estado, no período de janeiro a novembro. Este ano, no mesmo período, foram 95 ocorrências registradas pela PM.
Outros casos
“Tinha que ser coisa de preto”, ouviu vereadora
Assim que foi lançado em Vila Velha, em 2016, Patrícia Crizanto (PMB) registrou como hospedado em uma seleção da associação de moradores do bairro onde moram. A agressão veio de uma estudante de direito.
“Ela queria votar, mas não estava mais morando no bairro. Então, eu fui falar com ela. Nisso, ela disse: ‘Tinha de ser coisa de preto’. Eu vou processar, mas a família dela pediu que eu não fizesse e desistisse ”, relatou Patrícia.
Confundido com segurança em banco
O advogado e ex-candidato ao governo André Moreira (Psol) já foi confundido com segurança de banco e compras.
“Outro dia estava no banco que acompanha uma perícia de um processo, e um cliente me perguntou onde fica a gerência. Na cabeça das pessoas um homem de terno preto pode ser segurança ou pastor, mas nunca um advogado. Esse racismo não está inconsciente ”.
Fonte e foto reprodução: Tribuna Online