É meu prezado leitor. Eu voltei. Gostaria de dizer, como meu conterrâneo famoso, que agora é pra ficar. Mas não posso. Não obstante a paciência de nosso editor Basílio Machado em não me dispensar definitivamente, meu grau de desorganização pessoal torna difícil manter regularidades em qualquer coisa que não incorra em grave ameaça à minha existência (fica a dica Basílio).
Alguns podem ficar surpresos com essa revelação. Mas é que eu engano bem. Poucos acreditam que alguém com um elevado grau de desorganização pessoal e indisciplina possa alcançar algum resultado diante das metas que a vida social (não a própria pessoa) nos coloca. Há, ainda, um certo romantismo com os desafinados que alcançam a glória musical. Afinal, no peito dos atabalhoados também bate um coração. E essa talvez seja a grande questão.
Há muito se discute a oposição (falsa ressalte-se) entre razão e emoção. Os racionais, desprovidos de emoções, eficientes e infelizes, aqueles que fazem o que precisa ser feito; enquanto os emocionais, felizes, mas fracassados, com seus muitos sorrisos e poucos resultados. Vez por outra um “irracional” chega ao hall da fama e diz: “Veja, pode dar certo”. Até pode, eventualmente fora dos filmes. Mas de tanta exceção que é até vira notícia.
Viver sem planejamento, sem consciência de si e dos próprios atos não é uma boa coisa. Pode até dar certo, pode dar resultados, mas o custo emocional é alto, além de que não se usufrui em totalidade daquilo que se alcança. Depender do acaso gera ansiedade, porque nem sempre o acaso vem nos proteger quando estamos distraídos. Embora a canção seja linda e inspiradora, quando estamos distraídos costumamos é tropeçar em obstáculos simples e facilmente evitáveis. Vamos deixando a vida nos levar, e quando paramos para olhar, ela nos levou para onde não queríamos ir. A romantização do desafinado fazendo sucesso no show business musical é só uma ficção caça níqueis. Dura pouco. Em geral queremos ouvir gente afinadinha, que canta bem. Mesmo os tik tokers do inferno não duram o suficiente para que seus odiadores – como eu – sequer guardem seus nomes.
Em uma sequência lógica do texto, agora eu escreveria sobre o outro lado, sobre como é ruim ter tudo planejado na vida também é ruim, desqualificando a outra ponta do polo oposto. Seria um pouco contraditório da minha parte, tendo em vista que o que tento sempre dizer é que polos opostos são uma ficção. Além do fato de que eu não tenho a mínima ideia de como é viver uma vida com excesso de planejamento. Essa é uma experiência que não consta no meu repertório!!!
No fim das contas, prezada leitora, prezado leitor, queridxs todos, precisamos aprender a não cair nessas armadilhas binárias. Ou razão, ou emoção; ou isso ou aquilo; ou eu ou o outro. No fim das contas, o cérebro que produz a razão é o mesmo cérebro que produz a emoção, e é uma tolice ignorar que razão e emoção não confabulam e conspiram tramas que por vezes surpreendem nosso suposto eu supostamente consciente.
Eu, cá do meu exílio canela verde poucas ruas do mar de Itaparica (a capixaba), gosto de ver como o mesmo oceano, em combinações diversas, produz diferentes ondas. E gosto de pensar que o meu oceano de neurônios produz lógicas como ondas, inclassificáveis em extremos e opostos polos.
Por fim, prometo me esforçar para retomar a regularidade dessa coluna, tornando assim mais fácil a vida de nosso editor. Mas só prometo o esforço. O resultado vai depender dos ventos. E da maré…
Nota do editor: Magnífico texto, para dizer que tá me enrolando (rsrs).